Marianna Leporace

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... E O VIOLÃO DE BADEN GANHOU VOZ!
Um dos maiores violonistas de todos os tempos, Baden Powell de Aquino (1937-2000) sempre teve suas parcerias interpretadas por nomes de peso da música popular. Mas agora suas criações ganham voz através da carioca MARIANNA LEPORACE. Dona de registro vocal único e privilegiado, dotada de enorme senso rítmico e sensibilidade aguçadíssima, a cantora lança pela Mills Records o CD MARIANNA LEPORACE CANTA BADEN POWELL.
Marianna é intérprete versátil, que passeia com desenvoltura pela chamada ‘MPB convencional’ e arrasa também no samba e no jazz. Ou seja, domina todos os elementos presentes na música de Baden. O CD foi gravado nos estúdios Fibra, no Rio, produzido por Kazuo Yoshida com direção musical de Alain Pierre e produção executiva de Tatiana Horácio, especialmente para o mercado japonês, saindo lá em 2006 pelo selo Toy’s Factory. Mas o resultado ficou tão bonito que decidiram trazê-lo para o Brasil. Aí entrou no circuito o empresário Carlos Mills, da Mills Records, que possibilita o lançamento por aqui.
A produção se cercou de um timaço de músicos de primeira linha: Willians Pereira (violão), Fernando Leporace (baixo), Edu Szajnbrum (bateria, percussão), David Ganc (flauta), Dôdo Ferreira (baixo acústico), Célia Vaz (violão) e Marcelo Martins (flauta). O CD conta também com a participação de músicos japoneses – o próprio produtor Kazuo Yoshida na percussão e bateria, seu companheiro no duo Música Orgânica, Mikio Watanabe, no violão, Yuji Otuka (cuíca) e Yukie Ishi (flauta) – e dos filhos de Baden Powell, Philippe Baden (piano) e Marcel Powell (violão). Participa também em algumas faixas o trio vocal Folia de 3, formado por Marianna, Cacala Carvalho e Eliane Tassis. Os arranjos são de Alain Pierre, Philippe Baden, Kazuo Yoshida, Mikio Watanabe e Marcel Powell.
O repertório abre com o contagiante Cai Dentro, parceria de Baden com o poeta Paulo César Pinheiro. O suíngue de MARIANNA LEPORACE valoriza ainda mais os versos soltos e precisos de Paulo César Pinheiro e as nuances da melodia de Baden Powell. O Samba da Benção, de Baden e Vinícius de Moraes, uma oração musical, recebe contornos próximos de Bossa Nova pura na voz de Marianna e no arranjo de Philippe Baden, que traz ao piano batida que lembra a marcação de César Camargo Mariano. O clima do autêntico sambão toma conta de Pra Que Chorar, outra parceria Baden/Vinícius. O violão de Célia Vaz e o baixo de Fernando Leporace fazem base perfeita para os vocais iluminados do Folia de 3. Detalhe curioso quanto a essa faixa: a cuíca, a cargo de Yuji Otuka, foi gravada no Japão. Só Por Amor, samba dolente da safra Baden/Vinícius, tem interpretação doloridamente cristalina em base totalmente gravada no Japão, com o duo Bossa Orgânica assinando arranjo e executando todos os instrumentos. Berimbau, um dos afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes, traz novamente a participação do Folia de 3, com belo arranjo de Alain Pierre e o violão marcado de Willians Pereira, discípulo do homenageado.
Uma das canções mais tristes de Baden e Vinícius, Refém da Solidão, é realçada pela interpretação de Marianna com o contraponto da flauta de David Ganc. Lapinha, de Baden e Paulo César Pinheiro, venceu a 1ª Bienal do Samba da TV Record em 1968. Ao final da faixa, a cantora divide vocais com Marcel Powell, também autor do arranjo. Cidade Vazia, de Baden Powell e Lula Freire, tem arranjo refinado de Philippe Baden, que remete ao latin jazz de Mario Bauzá e Dizzy Gillespie. Philippe também faz participação vocal. Tempo Feliz, de Baden e Vinícius, uma explicitamente camuflada mensagem de esperança – mesmo carregada de lirismo, é uma das letras mais politizadas do Poetinha, escrita em plena ditadura militar –, recebe leitura da intérprete na melhor escola do cool jazz, com a flauta de Marcelo Martins fazendo citação do Samba da Benção. Deixa é uma das composições mais conhecidas de Baden Powell em parceria com Vinícius de Moraes. Marianna explora graves e agudos com total segurança. Essa faixa mostra o quanto a cantora bebeu em fontes caudalosas do melhor da MPB e do jazz. Consolação (Baden/Vinícius) chegou pronta do Japão, com a voz sendo colocada no Brasil. Tem-se a nítida impressão de que todos gravaram ao mesmo tempo, direto. Note-se a incrível habilidade dos músicos japoneses em reproduzir com perfeição a batida do samba e o clima do candomblé. Em Tem Dó (Baden/Vinícius), o Folia de 3 faz deliciosas vocalizações. Os notáveis afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes ganham mais uma deslumbrante abordagem no medley que reúne Canto de Ossanha, Bocochê, Canto de Xangô e Iemanjá. Seguramente uma das mais lindas canções de amor de todos os tempos, Apelo, de Baden e Vinícius, é apresentada numa das interpretações mais sentimentais de MARIANNA LEPORACE, que vem acompanhada pelo violão de Marcel Powell, o melhor dos seguidores da tradição do pai.
MARIANNA LEPORACE CANTA BADEN POWELL, mais que simples homenagem ou tributo, é uma obra de devastadora emoção. O mago das cordas encontra na maestria da voz da jovem intérprete o endereço perfeito para suas imortais criações.
Um disco que emociona. Essa é a melhor forma de defini-lo.
TONINHO SPESSOTO Abril 2007FOTOS DE DIVULGAÇÃO: MARCO TERRANOVA

SALA BADEN POWELL - AGOSTO DE 2007
Marianna Leporace - voz
Fernando Leporace - baixo
Sheila Zagury - piano
Cacá Colon - bateria
Murilo O'Reilly - percussão