Mauricio Pessoa

Mauricio Pessoa - Um Cronista Carioca.Num país dominado por vozes femininas (cada vez mais autorais), o surgimento de um cantor e compositor de talento é um fato a ser louvado. Principalmente se este novo artista comprova, através do seu trabalho, que a canção brasileira, que muitos teimam em dizer moribunda, continua viva e saudável.Em seu primeiro CD, o carioca Mauricio Pessoa mostra, em econômicas onze faixas, uma impressionante habilidade em falar sobre o cotidiano dos personagens da cidade, com talento incomum nos dias atuais. Não há como negar a influência de um grande mestre da MPB na música de Mauricio. Chico Buarque parece pairar sobre as canções do carioca que abandonou a faculdade de administração para se dedicar à música - “Meu sonho é ser Robin Hood”, avisa em “Homem de Ferro”.A influência é salutar: Mauricio faz Música Popular Brasileira, onde a letra é valorizada sem deixar a melodia em segundo plano. Música e letra bem conjugadas, com requinte, em composições como “Tereza”, “Regina” – ambas retratando o relacionamento amoroso e seus desvãos, de maneira franca, contundente – e “Francisco”, inspirada em Paratodos, do Buarque.Outros grandes cronistas de diferentes tempos são lembrados nas entrelinhas das deliciosas “Tem Dó de Mim” e “Condição de Marido”: Noel Rosa (não por acaso, influência declarada de Chico) e João Nogueira.Com tantas referências seria fácil seguir o esquema de outros primeiros discos, regravando um ou mais clássicos, para tornar o trabalho acessível aos ouvidos mais preguiçosos. Felizmente esta opção foi descartada: as onze faixas são autorais, exceto “Amanhã Talvez” (dele e Antônio Gomes) e “Gentileza” (com Arnaldo Bloch). Também instrumentista, Mauricio homenageia Paulinho da Viola em “Um Choro pro Paulinho da Viola”, única faixa instrumental do disco. As cordas do Quarteto Bessler dão mais sofisticação à bela “Toda Maneira”.Produzido por Rodrigo Campello, o repertório conta ainda com “Lá Vai Maria”, (com a citação de Lata D’água) e de grandes músicos como Zeca Assumpção, Armando Marçal e Wilson das Neves, o CD Mauricio Pessoa, uma aposta contra a padronizada produção musical atual, mostra que a canção brasileira vai muito bem, obrigado.“Minha mãe acha que eu não trabalho / O Domenico acha que sim / Pra minha mãe trabalho é ser doutor / Pro Domenico é levar a vida assim / Falando de amor”.Mauricio desistiu de ser doutor. Passou os últimos cinco anos se apresentando em casas noturnas tão díspares como o Centro Cultural Carioca e a Melt. Sorte do Domenico. Sorte nossa!Julio Biar Agosto/2007