About Me
Uma das bandas mais interessantes da safra oitentista brasiliense, o Finis Africae nasceu em 1984, formado por José Flores (guitarra), Rodrigo Leitão (vocal), Neto Pavanelli (baixo e teclados) e Ronaldo Pereira (bateria). A banda colheu o que havia de mais sofisticado no rock inglês - Joy Division, Bauhaus, Siouxie and The Banshees e The Cure, principalmente - para fazer um som sofisticado e melodioso, com destaques para as texturas de guitarra e um baixo sinuoso. O grupo seria incluÃdo no rol das bandas dark, um rótulo excessivamente idiota, criado naquela época por parte da mÃdia para classificar as bandas identificadas com o som gótico, que dominava a cena roqueira inglesa e européia. O nome Finis Africae surgiu de um clássico da literatura contemporânea: Em Nome da Rosa, do escritor italiano Umberto Eco, depois transformado em filme estrelado por Sean Connery e Christian Slater.Com essa formação a banda participou da coletânea Rumores, lançada pelo Sebo do Disco em 1985, com duas canções: Van Gogh e Ética. Ao lado do Escola de Escândalos, o Finis foi a banda que mais despertou simpatias da crÃtica especializado do eixo Rio-São Paulo, abrindo as portas para apresentações nas danceterias da época. Surpreso com a receptividade do sudeste-maravilha, Isnaldo Lacerda, produtor do disco Rumores e dono da loja e selo Sebo do Disco, logo se interessou em contratar os quatro para fazer um disco solo e independente. O homônimo Finis Africae foi lançado em 1986 já sem a participação de Rodrigo Leitão - que mais tarde formaria a banda Pânico! -, substituÃdo por Eduardo Moraes.Entre o primeiro registro (Rumores) e o segundo (Finis Africae), o salto de qualidade dado pela banda é incontestável. O disco solo com seis canções - em formato de mini-LP, em voga na época - mostra maturidade musical do grupo, que passou a explorar da melhor forma os timbres de Zezinho Flores e a cozinha funkeada de Ronaldo e Neto. De acordo com os próprios integrantes, o responsável pela virada no som da banda foi Eduardo Moraes. O lado A do LP abria com a canção que seria o primeiro hit da banda - um ano depois - em todo o paÃs: Armadilha, numa versão muito superior à quela gravada no primeiro disco pela EMI, também chamado Finis Africae. “Andando entre cacos/ Me sinto em pedaços/ E até hoje não sei dizer/ Se está tudo acabado...â€, cantava Eduardo na primeira faixa. Na seqüência vinham A Queda e Máquinas do Prazer. O lado B abria com Mentiras, com clima etéreo, passava por Atrás das Grades e seguia com Pretérito.O disco de 45 RPM foi lançado com 2.000 cópias prensadas e rapidamente esgotadas - hoje é item de colecionador - levando Lacerda a providencialmente encomendar uma nova tiragem. A capa verde com uma cruz estilizada era assinada pelo artista plástico e músico Lui - ex-Arte no Escuro e ex-Divisão Anti-Globo, famoso pela homenagem feita pelos Paralamas do Sucesso no LP O Passo do Lui. Para mostrar o repertório do disco, no inÃcio de agosto de 1986 o grupo se apresenta na Sala Funarte para três apresentações com ingressos esgotados. Há oito meses a banda não tocava na cidade, por conta de shows no eixo Rio-São Paulo, inclusive nas famosas Rose BomBom e Madame Satã. Chegaram também a promover shows pelo interior de Goiás, durante a campanha eleitoral daquele mesmo ano. “A receptividade do público foi ótima, mas o candidato do PDS (que contratou o grupo) felizmente perdeuâ€, lembrou, divertido, Eduardo.O sucesso e a repercussão entre a moçada brasiliense foram tão grandes que a banda repetiu a fórmula com mais três apresentações na semana seguinte. No mesmo mês ainda fariam mais uma apresentação, abrindo para o Capital Inicial em um show realizado no Circus Show. Logo depois, o grupo partiria para uma curta turnê pelo Nordeste. A opção pela produção independente não significava que a banda estava desinteressada em se ver no cast de uma major. Parafraseando os arroubos da Plebe Rude, queriam saber sim de grana e fama. “Queremos rios de dinheiroâ€, desabafa Zezinho Flores. “Ainda estamos ganhando pouco pelos shows que realizamos... Sobrevivemos com uma certa dificuldade e os cachês nem sempre são decentesâ€. De acordo com o guitarrista, apesar da boa receptividade as dificuldades para a realização de boas apresentações eram muitas. “Não havia, ainda, espaços bons para se fazer rock no Brasilâ€, afirma.Em entrevista ao jornalista Celso Araújo (depois vocalista da banda Akneton), publicada no Correio Braziliense, o guitarrista afirma que a banda está disposta a perseguir um caminho próprio, fugindo do óbvio e apostando na singularidade. “Nós não nos parecemos com nenhuma outra bandaâ€, afirma. “Não existe similar para o nosso somâ€. Na época, além do repertório próprio, a banda arrisca algumas recriações de canções alheias, como Good Times, do Chic e pérolas do Bauhaus. As letras, de autoria de Eduardo Moraes, batiam muito na questão do corpo, desejo e solidão. “Ele é um manÃaco sexual, principalmente agora que se casouâ€, brincava o baixista Neto. Entre os fãs da banda estavam Renato Russo e o vocalista da banda paulistana Zero, Guilherme Isnard, que se dizia fã do grupo por conta das letras românticas.Uma das novas canções deste perÃodo é Deus Ateu, presente no segundo disco da banda (Finis Africae), o primeiro e único lançado por uma grande gravadora: “Deus deve ser ateu/ Ou então se esqueceu/ De olhar para o meu corpo...†Os quatro planejam montar um show com textos de Antonin Artaud - poeta francês (1896-1948), que desde cedo apresentou problemas de saúde e neurológicos e, aos 24 anos, começou a tomar tintura de ópio para aliviar dores de cabeça e sofreu vários tratamentos para loucura. Grande influência sobre a banda, o veterano teórico do teatro e autor de peças teatrais, poemas, ensaios, cartas (seu meio de expressão preferido), questionou e subverteu a noção de LOUCURA em seus textos, como em Van Gogh: O Suicidado Pela Sociedade, que serviu de inspiração para a ótima Van Gogh.O cabecismo da banda, no entanto, não parecia ser gratuito. O grupo buscava optar pela busca da teatralização do desejo. “Uma poesia de assombro com bastante balançoâ€, definiu Celso Araújo. Ainda naquele ano o grupo é contratado pela EMI-Odeon, graças aos pedidos de Renato Russo, e no ano seguinte sai o disco homônimo Finis Africae, com regravações de parte do repertório do disco independente, cujos direitos foram comprados pela gravadora. Além de Armadilha, a banda regrava Máquinas do Prazer e Mentiras. O disco, produzido por Mayrton Bahia - o mesmo produtor da Legião Urbana -, seria batizado com o nome de um dos versos da canção Ask The Dust (mesmo nome do romance do escritor pré-beat John Fante): Atendendo à sua desilusão. O disco é bem recebido pelo público e parte da crÃtica. O jornalista Luiz Antônio Giron até que pegou leve: “Afunde no balanço tétrico e bem urdido deste ‘Joy Division do planalto’â€, disse na crÃtica do LP. “O vocalista é fraco, mas o fato é compensado pelo ótimo power trio e letras medianamente depressivasâ€.A vendagem desse disco - 40 mil cópias -, considerada relativamente boa dadas as condições da economia brasileira, ressaqueada pelo Plano Cruzado 2, não leva a gravadora a renovar o contrato com a banda. Os executivos alegam que o investimento era demasiadamente alto para bancar um segundo LP diante da tormentada economia tupiniquim.O grupo tenta manter-se na ativa, mas no inÃcio da década de 90, o Finis Africae é dissolvido pelos integrantes remanescentes. Nesse tempo, apenas o baterista Ronaldo Pereira continuaria envolvido com música - é o empresário do Planet Hemp. Zezinho é assessor no Senado Federal, Eduardo tornou-se webmaster, após uma temporada na Europa, e Neto passou a dirigir um curso de inglês na capital federal. Com o sucesso da volta de Dinho Ouro-Preto ao Capital Inicial, o Finis ensaiou o retorno, tendo em vista a receptividade do público nas apresentação da banda-siamesa, que incluiu em seu repertório Armadilhas.Em 1998, a banda é remontada no Rio de Janeiro, mas sem Zezinho e Neto, que continuam a viver em BrasÃlia. No ano seguinte, Ronaldo Pereira e Eduardo Morais convocam Roberto Medeiros (baixo), César Nine (guitarra, ex-Coquetel Molotov) e MacGregor (teclados e guitarra) para fazer shows no Rio - Fundição Progresso, Loca Cultural da Capelinha, Interdance e Ballroom - chegando a gravar uma CD-demo. O grupo faz uma apresentação histórica em BrasÃlia em fevereiro de 2000, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, com a nova formação e está atualmente lançando um disco ao vivo.
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