Tiago Manaia

Começo com uma frase que me valeu uma boa nota numa redacção da escola preparatória ; nasci a 22 de Dezembro de 77 dia considerado o mais pequeno do ano e aqui talvez encontre a explicação lógica para a minha baixa estatura . Foi na Parede que decidi que queria ser actor e o resto da infância foi calma marcada por poucos problemas de comportamento idas a um Endocrinologista e a morte do meu pai. Doze anos sou órfão. Em 92 conheci um encenador e um ano depois deixei o liceu normal para me dedicar ao teatro , todas as noites subia ao palco do D Maria II , primeira tragédia , Ricardo II depois mais tragédias no teatro experimental de Cascais. Um dia vi um filme do Truffaut e decidi que ia viver para Paris, falava bem a língua tinha dezoito anos e meio. Paris foi como viver dentro de um palácio, a euforia dos corredores ,portas sem fim e as vertigens que isso provoca. Entrei no Conservatório Nacional ,aprendi o teatro clássico Francês , juntei - me a um grupo de amigos ,misturamos vídeo com performance e conseguimos percorrer França , fiz teatro em fabricas abandonadas e castelos . Ao mesmo tempo pisava o meu primeiro plateau de cinema, João Canijo ,no filme morria depressa. Depois conheci o rapaz que ate hoje mais me inspirou, o cineasta Christophe Honoré , fui actor pela primeira vez num filme que era parecido com aquilo a que eu chamava cinema, era o meu sonho Francês . Quando descobri o filme em Cannes passei metade da noite da projecção oficial a chorar na estacão de comboios. Sim, perto da croisette também passam comboios. Comprei a minha primeira maquina fotográfica nessa ano , nos dois anos que seguiram viajei , América , Argentina , os festivais de cinema , Londres . Comecei a escrever historias e a tirar fotografias aos meus amigos, as actrizes francesas que fazem tão bem de conta sem nunca serem naturais . Fiz mais filmes onde apareço mas passei mais tempo a observar os técnicos a montar travellings. Tive muitos momentos em que me senti traidor e quis voltar a viver em Portugal, fui vivendo um bocadinho em todo o lado e voltei. Outubro 2006 , Lisboa . Encontro uma casa na Rua da paz e tento acreditar na ideia. Passo noites acordado a pensar ,que posso contar a minha vida como nos filmes....este sentimento de me sentir estrangeiro no meu país lembra-me a sensação dos meus doze anos,o meu bairro é calmo, ainda não encontrei o grande amor mas continuo sorriso nos lábios a tentar ...