Chapeleiro Louco

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Vagabundo inveterado, o seu candeeiro de mesa-de-cabeceira tem armação de ferro datada 1893 e pintura verde ocre de 1998; tem um mapa mental das ruas que sobem e descem de Lisboa, mas apenas daquelas que são mais velhas que Fernando Pessoa e que cheiram a mijo; em dias de sol bebe cerveja, geralmente bebe vinho tinto de 1,05€, em dias de chuva trata o wisky por tu; acha que os tascos e toda a sua magia, desde do empregado encaralhado ao bêbedo da casa e ao jogo da bola na tv, são o centro de narrativas míticas e universais; os seus melhores amigos são aqueles que conhece numa certa noite, e que não se lembra no dia seguinte; acha que "quanto mais pálidas melhor!"; acha que "quanto mais loucas melhor!"; ama Lisboa e manda para o caralho todas as noites o Castelo e o Tejo; gosta de fazer malabarismo com palavras; gosta de fixar instantes; gosta de percorrer as ruas desertas da cidade às 5,33, uivando e rindo, perguntando à Lua se o está a ouvir;(...)
Bailarina Dançarina
E a bailarina dançarina de sapatos vermelhos brilhantes com seus pés vermelhos em carne-morta; dança.
Dança e rodopia com uma garrafa na mão. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, desgastando a sola dos seus pés.Deixando pequenos pedacinhos seus no chão de madeira deslizante, no piso de dança.
E a bailarina dançarina de cabelos-noite e olhos-mar.Filha do gerente do hotel que existe no topo da escarpa, ao lado da cascata.Por entre as tenebrosas e imponentes árvores, onde vivem uivos violentados de vultos velozes e esfomeados; dança. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, deixando deslizar seus cabelos-noite, passeando os seus olhos-mar por toda a sala e por todo o piso de dança e perdendo-se no remoínho da música, do melancólico bop que nem chega a fazer pop nem tun tun tun nem beebop-pop-bog e apenas a envolve numa estranha neblina anestesiante que lhe acende o cigarro apagado no canto da boca.
E a bailarina dançarina apenas dança sozinha; dança. E a bailarina dançarina foge quando o bailarino dançarino aparece para lhe dar a mão e a levar ver a Lua.
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