Manuel

Rua Dona EstefâneaE se os mortos podem dançar vou olhar de outra forma quando por lá passar nas frondosas árvores envoltas pelo deserto de betão, calçada e arrumadores e depois há o Hospital a propósito das dores arrumadas num canto do corpo hospital de desejos intensos outrora não há muito esconderijo de sentenças e projectos de futuro bastava sair da porta para fora olhar, mas sem respirar fundo mesmo rodeado das belas e árvores em ilhéus do betão e dos drogados que arrumam carros com precisão em busca de tostão, da seringa mais próxima para outras ocasiõesComeça então numa ponta de banal sensação sem que ao longe se aviste a final e misteriosa conclusão qualquer coisa preciso de dizer para glorificar a terra do inicio de milhões de almas entregues à sorte do abismo, do sucesso efémero, da desilusãoSigo então o caminho pelo passeio da provocação da indiferença ao arrumador de um automobilista enfurecido sem euros no bolso sem medo do que não lhe disseram acontecer e o miserável desguarnecido lá seguia para outro lugar mais à frente, perto de mim, perto do fimE sem mais pontos de interesse sem que qualquer centelha de amor me instruísse me fizesse parar e olhar para trás, encontrei a Rotunda o fim da rua em vista, onde nascera noutros tempos noutra era, sem arrumador sem euros ou tanto betão de volta das árvores bucólica memória do que nunca tiveManuel Marques