ela continuava ali, sentada e só, como pediam aqueles dias. como sempre ela segurava com cuidado entre as mãos em formato de concha algo que despertava a atenção não só daqueles que passavam, mas dela mesma, que de tempos em tempos aproximava apreensiva os ouvidos das mãos, como quem se certifica da normalidade da situação. ele se sentou ali, ao lado dela e sem pensar a protegeu da chuva, como pediam aqueles diasela: obrigada! ele: pelo que? ela: pensava que já tinha me tornado invisÃvel. ele: impossÃvel... não sei de nada melhor pra se ver... ela: obrigada. ele: pelo que? ela: pelo guarda chuva. ele: eu guardo seu segredo também... ela: segredo? ele: esse que tem nas mãos ela: (risos) não é um segredo o que guardo nas mãos, mas pode continuar tentando... ele: me deixa ouvir assim de perto, como você faz? ela: sabe do que eu faço?! (pausa) pode, mas não venha perto de mais, pois está quebrado. ele: ouço tic-tacs... guarda aà um relógio? ela: não, não... do tempo ele não entende nada... conta como quer... faz as horas passar rápido, rápido ás vezes... outras simplesmente se vê no direito de nunca deixá-la ir... aprisiona o tempo dentro de si. ele: e isso não tem conseqüências? ela: para o tempo não... ele se vai... ficam somente dores. ele: posso ouvir mais uma vez? ela: pode, mas não venha perto de mais, pois está descompassado. ele: é um metrônomo? ela: também não é, mas agora chegou mais perto, muito mais... ele sim, bate no ritmo de uma canção mas mudo seu tom de acordo com a emoção, assim sem métrica ou partitura. ele: posso espiar? ela: cansado do jogo de adivinhar? ele: não... é que... ela: pois eu estou. pode espiar, mas não chegue perto de mais, pois está ameaçado.