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ENTREVISTA A Spirit (MC) – REVISTA H2T - Outubro/2003
MANIFESTO SEM INFLUÊNCIA
Marsul parece ser uma palavra chave e, por estranho que pareça, não passa de um ‘corte e costura’ ao termo Margem Sul, local de residência e fruto de inspiração para este MC. Oriundo da Guiné veio para a Europa atrás de um sonho que ficou sempre aquém do pretendido, o futebol. Após uma primeira passagem por Espanha, chegou a Portugal já com uma bagagem musical fortemente baseada no Reggae e Hiphop. Foi apenas uma questão de tempo até rodar alguns palcos juntamente com Kussondolola , o que o conduziu por caminhos que ditaram o nascimento de um novo grupo de Hiphop, os Influência Negra, isto há cerca de dez anos atrás. Infelizmente, esses mesmos caminhos que os uniram, não lhes trouxeram (até hoje) sorte igual para o álbum. Contudo, Bad Spirit, em momento de pausa dos Influência Negra, aproveita para avançar com “Odiado e Mal Amado” e denunciar que o Hiphop não tem ainda a influência merecida. Resta o essencial... o manifesto. - É impossível não reparar no teu nome de MC, - Não de maneira alguma. E acho que não é um rótulo negativo, é o meu nome de guerra. Qualquer pessoa quando escolhe um sobrenome ou uma alcunha tenta sempre ser diferente e foi isso que eu fiz, tentei marcar a diferença. - Tem a ver comigo e com o movimento Hiphop. “Odiado e Mal Amado”, neste caso, está a referir-se ao Hiphop. Quer queiramos quer não o Hiphop é odiado e mal amado à partida, e quem acompanha minimamente o movimento sabe.
PORQUÊ CANTAR EM ESPANHOL?
- Canto em espanhol porque realmente comecei a fazer rimas quando estive em Espanha, em 90 e tal. E só quando vim definitivamente para Portugal, comecei a fazer rimas em português. Esse tema serve para lembrar, tenho uns amigos que ainda vivem em Espanha, começámos a fazer Hiphop juntos, e talvez seja por homenagem a eles. - Sim, houve. Escrever, foi naquela, um gajo faz rimas em qualquer momento, entre-aspas claro. Mas o que me cansou mais foi reunir o people todo, porque trabalhei com vários produtores: eu tinha que ir para Chelas ter com o Sam, depois para Queluz ter com o Cap, para Cruz Quebrada ter com o Cruzfader, Didi em Rio de Mouro. Foi assim uma cena muito heavy, tinha que estar a correr de um lado para outro. Quanto às participações, também deu um bocado de trabalho, havia people que estava a estudar, outros a trabalhar, não foi fácil. Em Outubro comecei a gravar em estúdio, em Dezembro já estava tudo gravado, só faltava dar aqueles toques. Também fiquei à espera do Nigga War que estava a chegar e queria que ele desse pelo menos um toque na cena.
- E COMO SURGE ESSA TUA FACETA REGGAE QUE TAMBÉM ESPREITA NESTE ÁLBUM..
- Eu sempre curti reggae e Hiphop. Mesmo no inicio, quando comecei a curtir Hiphop com o meu people, nunca dispensava reggae, e sempre que havia concertos de reggae ou Hiphop, eu estava lá. Entretanto, quando voltei para Portugal, conheci o Janelo dos Kussondulola, nós morávamos no mesmo bairro e inclusivamente no mesmo cúbico e eu ia com a banda dele (os Kussondulola) para todo o lado. Na altura, por volta de 92, havia caixas de ritmo ky10 e não havia material para fazer uma banda de Hiphop, haviam os grupos que entraram no “Rapública” e poucos mais. Eu também andava aí só que não tinha grupo. Então, juntei-me aos Kussondulola, acompanhava-os a concertos, entrava numa party e dava as minhas dicas, até que um dia decidiram formar uma banda de sound system, os Fankambareggae, e com essa banda girámos a tuga toda. Hoje ainda continuo a fazer umas cenas com os Kussondulola. E, como disse, estou a pensar um dia fazer um álbum só de reggae, dance-hall...
- DO PASSADO AO PRESENTE, E EM JEITO DE MENSAGEM FINAL, QUAL É A TUA OPINIÃO SOBRE A ACTUALIDADE DO HIPHOP NACIONAL?
- Está fat, está fat, a cena está fixe, está a andar bem. É bom que continue assim no mesmo caminho, que o people não se venda, porque o importante é isso e isso depende de nós e de mais ninguém. A nossa manutenção depende de nós, se começamos a falhar não nos vamos manter. Temos é que continuar reais, a bombar, fazer a cena como deve ser. Porque, quando começa a entrar paca, o people começa à toa a andar atrás dela e estão-se a cagar para a cena, o meu medo é esse. É preciso que haja paca para manter a cena, mas também não vamos correr atrás dela. Se vamos atrás da paca temos que ir com a nossa cena ao lado, para não a deixar para trás e bazar só com a paca. Isso é perigoso, agora há muitos abutres mas tudo depende de nós.
Spirit está actualmente em estúdio, a preparar o seu novo disco de originais…
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Posted by on Fri, 09 Mar 2007 13:34:00 GMT