About Me
Em algum momento do segundo semestre de 2004, eu escutei pela primeira vez as palavras "Tony" e "gatorra" na mesma frase. Alguém havia me contado que um cara no sul do paÃs havia construÃdo um instrumento chamado gatorra e que seu nome era Tony.As lendas corriam soltas: ele era um amigo do Miranda (produtor e diretor da Trama Virtual), estava no limiar entre a sanidade e a loucura, morava em Porto Alegre, era o Daniel Johnston ou o Throbbing Gristle do Brasil...Quando escutei essa história, ele iria tocar em São Paulo, num bar/loja de camisetas na Rua Aspicuelta. Mas ele havia surtado e, mal tendo desembarcado na rodoviária do Tietê, havia feito o caminho de volta, deixando a curiosidade tomar conta da situação novamente.Depois, as coisas foram se esclarecendo: Tony era um eletro-técnico que retirava sou sustento do conserto de televisores e videocassetes quebrados. Vivia em Esteio, "a Osasco de Porto Alegre". Havia construÃdo um instrumento que misturava percussão e sintetizador. Não conhecia o Miranda pessoalmente. Começou carregando os instrumentos das bandas dos bares da região de Esteio (lá pelos anos 60/70), depois, após tanto montar baterias, aprendeu a tocá-las. Dos instrumentos comuns, Tony sabe tocar os percussivos. Escuta Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Black Sabbath, Bob Dylan, etc.Cantava músicas de protesto, pregava a paz, o fim da violência, o fim das desigualdades sociais e da gula (no sentido de uma ambição desmedida da elite brasileira). Havia feito mais de 10 (dez) shows: em rádios (Ipanema e outras - no primeiro "show", Tony deveria acompanhar o playback de uma de suas gravações, mas ele não soube fingir que cantava e foi vaiado pelo público no auditório da rádio), na Esquina Democrática em Porto Alegre e em edições do Fórum Social Mundial. Eu mesmo escutei de Tony que em um de seus shows, na época dos 500 anos, enquanto ele cantava, a população ensandecida quebrou um dos relógios que a Rede Globo havia espalhado pelo paÃs em comemoração aos 500 anos do Brasil ("Mercenários", diz Tony, em relação aos usurpadores do Brasil nesses quase 505 da "invasão").Tony também já apareceu em programas de televisão de retransmissoras de Porto Alegre e uma vez no Programa do Raul Gil.Em meados de fevereiro de 2005, num outro bar/loja de camisetas, prometeram a vinda de Tony para São Paulo. Dessa vez, com mais estrutura, Tony ficou.Conheci Tony no dia 31 de março de 2005, quando fui encontrá-lo no hotel (com seu "padrinho" em São Paulo, Guilherme Barrella da Peligro). Percebi que ele era um cara normal, tinha o coração bom daqueles que apenas se preocupam em fazer o que gostam e não se preocupam com o que os outros irão pensar. Distribui sÃmbolos da paz, que ele mesmo fabrica, para as pessoas ao seu redor. Não tinha nada de louco.Fez um show inesquecÃvel no Milo Garage, lotado, sendo que umas 12 pessoas sabiam suas letras e cantavam junto com ele, contagiando as demais. Tony disse que ficou emocionado. O sonho de Tony é viver da música e comandar uma linha de produção de gatorras.Depois de ter passado algumas horas com Tony, de ter encomendado a minha gatorra, acho que o Tony é apenas (sem nenhum demérito nesse apenas) um cara que expressa o que sente. Se ele teve que construir um instrumento para fazer isso, melhor para nós.
Bruno Ramos Pereira.