About Me
ANTONIO HENRIQUE: O GATÃO DAS GATINHAS -
Segundo informações ‘top secret’, ele residia em algum lugar entre Sarandi e Maringá, capitaneava um programa de televisão e nas horas vagas era vendedor. Seu nome: ANTONIO HENRIQUE. Status: LENDA.
Na extinta Jardim Elétrico Discos, garotos e homens formados, alguns contando mais de 4 décadas de existência, silenciavam suas vozes e pensamentos ao ouvirem um disco. Todo sábado, após um respeitoso minuto de esporro total, direcionávamos a agulha do velho Garrard-Gradiente no inÃcio do lado “B†do vinil “Coração Verde do Brasilâ€; alguns chiados depois, uma voz ecoava por toda a loja e corredores do Centro Comercial, provocando frisson entre a rapaziada e os funcionários do velho edifÃcio: era o GATÃO DAS GATINHAS conclamando os ‘Jovens’ a aproveitarem o “Fim de Semanaâ€.
UM POUCO DA LENDA -
Antonio Henrique tinha um sonho. Além da vontade de ser ‘alguém’, queria ser um ‘cantor profissional’ também, o que na época só era possÃvel com a gravação de um disco. Para tanto, o bardo visionário precisou vender seu único bem: um meio de transporte conhecido como ‘BrasÃlia’, algo entre um automóvel e uma garapeira. Com o dinheiro, pagou algumas horas de estúdio e cercou-se de técnicos competentes, entre eles o lendário Jeca Tatu. Artista completo, assumiu também a função de produtor e decidiu dar uma sonoridade ‘up to date’ ao LP, importando do Paraguai um moderno teclado Cassio. A bolacha chegou à s lojas nos primeiros meses de 1987, através do selo independente Itaipu, sediado em Maringá, trazendo no repertório um resumo das experiências e aspirações de um jovem interiorano que teve acesso ao ‘universo pop’ da década de 80. A solidão evocada pelas lembranças remotas da infância (No terreiro da minha casa/Sempre sozinho eu brincava), ou pela descoberta do amor platônico e do ‘voyeurismo’ (Na minha rua mora uma loirinha/Das que eu conheço ela é a mais bonitinha/Quando ela passa, todos ficam observando/O jeito dela andar se requebrando/Eu acho graça/.../Fico espiando pela fresta da vidraça); a afirmação do direito ao sexo ‘casual’ (Porque somos jovens/Temos direito de se amar); a trágica perda dos pais, durante a construção de uma Hidrelétrica - que por uma terrÃvel coincidência tem o mesmo nome da gravadora que lançou o disco (O sÃtio que eles moravam/Foi inundado pela ‘Itaipu’); passando ainda pelos anseios econômicos, reflexo da geração ‘yuppie’ (Se eu acertar a ‘Quina’/Não penso duas vezes, não/Vou direto na agência/Comprar um lindo ‘carrão’); ou amorosos (Você é minha gatinha/E eu sou o seu gatão/.../E vamos viver a vida amando loucamente, certinho?), além do reconhecimento do então emergente BRock (Por que ficar parado/Ao som do Rock Pesado/Que só traz alegria?), e de um dos grandes clássicos da dramaturgia infantil da década, homenageando com uma canção o alarve extra-planetário He-Man (Com seus poderes de Greyscom (sic)/Você iria acalmar/Todos os maus elementos/Que sempre vivem a matar).
FÃS ÓRFÃOS -
Numa fatÃdica tarde de agosto de 1989, uma legião de admiradores se deslocou num coletivo de Maringá a Sarandi, onde Antonio Henrique, usando um pseudônimo, apresentava um programa de variedades numa emissora de TV local. O objetivo era contratá-lo para uma apresentação e colher autógrafos nas capas de seus valiosos LPs, adquiridos a muito custo numa operação ‘Blitzkrieg’ realizada em dezenas de lojas situadas entre as cidades de Marialva e Goioerê. Após uma súbita retomada de consciência – sim, o ‘Mestre’ julgou-se privado dela – passou a renegar sua obra, como um pai que abandona o filho incompleto. Não assinou o contrato para o show e recusou-se a autografar os discos, respondendo com uma breve frase no inconfundÃvel dialeto sarandiense: “Não é ‘ieu’, não!â€
MYSPACE - 20 anos depois, os fãs órfãos, espalhados por todos os cantos do paÃs, continuam a reunir-se religiosamente para ouvir e disseminar a obra-prima do genial “GATÃO DAS GATINHASâ€. Após o desaparecimento da Jardim Elétrico Discos, a “Festa do Globinho†passou a ser o principal evento de culto ao ‘Mestre’, que finalmente tem suas rarÃssimas e imortais gravações disponibilizadas para download gratuito nesta página. – Nilson Fakir – www.myspace.com/programajardimeletrico