About Me
é tudo imaginário. não existe companhia nenhuma, apenas um músico solitário, às voltas com as melodias, as harmonias, os sons que persistem em acompanhá-lo. sempre foi assim. e penso que assim será, quase como uma maldição. não há concertos, não há discos, é tudo imaginário. o que é um músico? alguém que vive da música? se é assim, eu não sou músico. alguém que é assaltado no dia a dia por sons, por sequências, por cadências, que ouve constantemente padrões nos sons do quotidiano? eu sou assim. ouço música nas máquinas com que trabalho, no ranger das árvores quando abanam com o vento, em toda a parte. por isso acho que sou músico, mas posso estar enganado.
as músicas da companhia imaginária de música são compostas num teclado roland que tem incorporado um pequeno gravador de 6 pistas. são pequenos trabalhos de corte e costura. são feitos essencialmente para mim, para extravasar esta necessidade de dar corpo à quilo que por mim flúi. mas música é comunicação, música é veÃculo de transmissão de emoções, de estados de alma, todos esses lugares-comuns. por isso aqui estou.
é suposto escrever-se aqui um historial. sempre toquei, desde que me lembro. em minha casa havia um velho piano. tive dois ou três anos de aulas na infância, que me deram conhecimentos básicos sobre a estrutura e rudimentos de técnica. gostava de tocar algumas melodias compostas por outros, mas o que me fascinava mesmo era inventar, criar. e continuou a ser assim durante a adolescência. nunca adquiri o método e a técnica necessárias ao exercÃcio de uma profissão de músico. a vida, os condicionalismos da vida, levaram-me por outros rumos. e eu fui. mas a música ficou sempre cá dentro. sempre foi difÃcil encontrar parceiros, interlocutores, para criação conjunta. fui ficando solitário. por convite de um amigo fui fazendo um ou outro trabalho para peças de teatro, mas a música de cena, embora interessante, é demasiado espartilhada, não me preenche. fim de historial.
e depois há as imperfeições técnicas. a falta de paciência para retocar aquilo que sai espontaneamente. a falta de tempo para me prender com pormenores de gravação, de passar as coisas para outros formatos. a falta de conhecimentos para incorporar sons acústicos naquilo que faço, e uma outra série de faltas que não me apetece agora enumerar.
não procuro uma carreira, fazer nome ou renome. muito menos dinheiro. procuro apenas saber se, ao contrário de algumas opiniões, a música que de mim sai toca em alguém. se algures por aà há quem entenda, se emocione, compreenda ou partilhe.
é tudo imaginário.