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Uniforme na sua diversidade, a pintura de António Ferrão tem tanto de encanto imediato como de imposição para uma posterior mastigação inteligente das realidades que nos propõe. E estas, realidades quase sempre pertencentes a uma paisagem sentimental, são paisagens de alma, estados de espÃrito que tornaram forma, que vestiram corpos diferenciados todos eles personificando situações que são nossas, que são de todos, gestos, poses e atitudes que muitas vezes vemos e poucas vezes reparamos. E esse é um dos segredos do pintor: olhar não com os olhos de ver, mas com os olhos de reparar.
O outro segredo importante de Ferrão é o olhar da própria obra, como se existisse um movimento contrário ao olhar do pintor e, também, ao olhar de quem quer fruir a obra.
Muitos raros são os quadros onde, explÃcito ou implÃcito, esse olhar não existe. Umas vezes traduzindo inquietação ou ansiedade, outras vezes concentração, desespero ou abandono, outras ainda, ternura, mágoa, orgulho ou serenidade, os olhares dos quadros de Ferrão são o elo de uniformização da sua obra.
A diversidade existe particularmente na forma, e na forma de procurar coisas diferentes, atitude sempre louvável de quem não assenta naquilo que já fez e obteve sucesso, afinal o que seria, de todos nós, o caminho mais fácil.
Não é facilidade o tom maior deste pintor. A sua pintura atinge um elevado grau de simplicidade, aquilo que, quer na arte, quer na vida, é muito difÃcil de conseguir. E quando um produtor de arte começa a ser simples, é porque encontrou a porta de entrada para o que é verdadeiro.
Veja-se e pense-se esta pintura. Deixemo-nos interrogar por ela depois de a termos interrogado. Há nela um mundo que é o nosso concreto, definido, pertinente. Somos, dela, habitantes inconclusivos. Personagens que, nela, se reconhecem como quem se vê ao espelho. Cúmplices, através dela, do pintor que a cumpre como se de uma missão mágica se tratasse: a de dar aos outros instantâneos que nenhuma fotografia poderia revelar. A pintura é uma missão superior. E António Ferrão desempenha muito bem a missão que Deus, o artista supremo, lhe quis confiar.Joaquim Pessoa, Janeiro de 2000http://www.galeriagalveias.com/index.htmlREPORTAGEM TVI: