O disco d'«O Maquinista» parece coisa do passado. Primeiro, pelo interesse que coloca nas palavras. Portuguesas, ainda por cima. Coisa rara no meio artÃstico nacional, esta de ouvir palavras assim, poemas sofisticados, palavras faladas com um respeito fundamental por algo que é, aqui, mais do que apenas um instrumento (também o é), mais do que uma peça do puzzle harmónico (também o é). É coisa do passado quando nos monopoliza a atenção e nos obriga a escutá-lo sem que nada mais nos distraia. Qual foi o último disco que nos pôs assim, a largar tudo aquilo que habitualmente fazemos quando ouvimos música, como se à música apenas reservássemos a função de banda sonora do quotidiano? É coisa do passado quando ouvimos que «A vida não é mais que uma colecção de polaroids, onde colo um selo e envio a todos os amigos e irmãos que me foram». É coisa do passado quando, no tempo da desmaterialização, nos dá o prazer de abrir uma embalagem diferente do comum, onde encontramos uma fotografia numerada, única, como sinal da ligação pessoal, nada industrializada e nada maquinal (!), que «O Maquinista» pretende estabelecer com o ouvinte. Mas aqui a coisa do passado, afinal, é também moderna, ainda que no sentido que os modernistas lhe deram no século passado. As artes, as da palavra, as da música e as da imagem, fundem-se num objecto rico, de formas multifacetadas, como quando ouvimos a voz dizer-nos «sou o anjo perdido nas ruas de Wender (...), sou a estrada sem fim de Kerouac, sou a rouquidão na voz de Tom Waits (...), sou o violino cavalgante de Venus in Furs (...), sou a árvore imóvel de Ginsberg (...), sou o cavalo de corrida de Bukowski». É também coisa moderna nos loops e demais elementos sonoros, como a bela harpa de Eduardo Raon ou o contrabaixo de Sergue, entre outros retalhos de som com que João Branco Kyron, o vocalista dos Hipnótica e o maquinista deste projecto a solo cose os temas onde se sustentam (e se amparam mutuamente) as palavras. Autêntica poesia sonora.
VÃtor Junqueira, 21 de Janeiro de 2009
www.juramentosembandeira.blogspot.com
"trilogia de lisboa: I da nostalgia" realização João Pedro Moreira
o maquinista - trilogia de lisboa parte I : da nostalgia from hipnotica on Vimeo .
live @ museu nogueira da silva (Braga)
o maquinista live @ museu nogueira da silva (Braga) from hipnotica on Vimeo .
Neste exercÃcio a solo, o músico deixou a experiência comunitária para se fazer não à estrada mas aos carris de um comboio solitário, que segue a todo o vapor por paisagens acutilantes e “palavras entorpecidasâ€. O registo spoken-word podia ter provocado reacções impacientes, mas o efeito acaba por ser de rendição.
BLITZ (4/5)
Aqui ouve-se o Groove do contrabaixo e respira-se jazz fumarento , ouvem-se harpas reconfortantes e ouvem-se percussões tribais que são pulsão ancestral atravessando os esqueletos dos edifÃcios. Tudo isto são esquissos sonoros – criam cenários para as palavras se revelarem…louva-se a ideia e a forma como, expandindo a sua expressão criativa, Kyron mantém a coerência do seu universo.
IPSILON (3/5)
O Maquinista é uma forma original de apresentar um poeta. Porque aqui o que conta mais são as palavras. Declamadas ao estilo de Jack Kerouac ou William Burroughs…Para todos os efeitos é um disco raro no panorama português até pela qualidade poética. Em terra de poetas quem tem ouvido é rei
JORNAL DE LETRAS
Polaroids. Poderia resumir nesta palavra só, a estreia do projecto O Maquinista. Poderia se tivesse mesmo de o fazer. Não tendo, polaroids acaba por ser uma explicação truncada, absolutamente insuficiente. Insuficiente por que não são tão instantâneas as imagens que João Branco Kyron, vocalista e letrista dos lisboetas Hipnótica, coleccionou para este seu disco de estreia. Exige serenidade; reflexão. Profundidade. Intensidade. “O Maquinista†é um disco misterioso. “O Maquinista†apela aos sentidos; como se fechássemos os olhos e nos vÃssemos a voar sobre uma cidade já cansada e caÃda no confuso lusco-fusco. Em busca de respostas. Algures entre a vigÃlia e o sono, num estado dormente de consciência. São respostas que nenhum polaroid nos pode dar, instantaneamente. Um mistério fortemente adensado pelos cuidados ambientes inventados pela música de João Branco Kyron - com Sergue (contrabaixo) e Eduardo Raon (harpa) como convidados. A importância da paisagem. Depois, a poesia. É ela que tudo tenta explicar, que tenta manter alguma ligação entre o sonho e a realidade. A ligação dramatizada pelos ambientes criados. E tenta explicar de uma forma tão próxima como só o spoken word sussurrardo consegue fazer. Gera proximidade; sente-se. Ao mesmo tempo, é com essas mesmas palavras que as personagens deste filme enchem as cenas de polaroids tão pouco instantâneos como enigmáticos. Continuamos no limbo , até ao fim. Desmaterializados na névoa da madrugada, como o autor o refere em “Trilogia de Lisboa: II. Da Desolaçãoâ€. Uma desmaterialização delirante, em busca da essência de algumas coisas. Misteriosamente. Velozmente. Um disco de sombras a necessitar de ser explorado, ao limite.
A TROMPA
Here's a thing... a spoken word project, made superior due to the quality of the music. The new album by O Maquinista arrives 2nd February 2009…O Maquinista, which features the vocals of João Branco Kyron (Hipnótica) is exactly one of those rare things: a music and spoken word project, where the music is as strong as the word. The music is a wonderful, filmic and spacey thing
LUSA ALTERNATIVA
a banda sonora do quotidiano…Sergue no contrabaixo e Eduardo Raon na harpa imprimem uma cadência absolutamente inebriante às palavras de Kyron. complementam-nas e fundem-nas num emaranhado deliciosamente inquietante.
VAIUMAGASOSA.BLOGSPOT
…Neste entorno pintado a néons cintilantes entre chuva nocturna, são ainda as palavras que se nos impõem, tornando impossÃvel e vã qualquer tentativa de as ignorar, tal a atracção com que nos são oferecidas, aos poucos, chaves enigmáticas para a descodificação do seu sentido último, arrestado que está no bucolismo urbano dos tempos modernos e na sedução sofisticada com que João Branco Kyron soube envolver «O Maquinista», tornando-o numa peça de artes (sim, no plural) de fino recorte.
DOMÃŒNIO DOS DEUSES (RUM)
Ambientes musicais densos, uma voz quase sussurrada, cansada e poemas estonteantes. É assim o álbum anónimo d' O Maquinista. Inspirado em nomes como Kerouac ou Burroughs, João Kyron dá ênfase às palavras, envolve-as em música, transpira poesia.É bom saber que ainda há gente que não tem medo das palavras, de as explorar até às últimas consequências.
1MUSICAPORDIA.BLOGSPOT
“O Maquinista†é o primeiro trabalho a solo de João Branco Kyron, também vocalista dos Hipnótica. É um disco fora do convencional que precisa de atenção redobrada, porque as palavras adquirem uma importância vital no contexto da obra. Porque as palavras são um instrumento. E porque as palavras, faladas, estão em português. O fundo sonoro onde elas se movem é trabalhado pelo próprio e pela harpa de Eduardo Raon e pelo contrabaixo de Sergue, companheiros dos Hipnótica. O resultado é polvilhado com retalhos de electrónica minimal a roçar a abstracção de uns Boards of Canada ou os pedaços melancólicos de Aphex Twin. “O Maquinista†movimenta-se em Lisboa, centro nevrálgico das vivências do quotidiano do seu autor, revisitadas em pouco mais de 37 minutos. As histórias de uma urbe de fábricas e armazéns abandonados deixam antever uma ambiência densa e negra sem uma unidade temporal declaradamente definida. A sonoridade deste disco confirma-o e aproxima-o dos terrenos cinematográficos que João Kyron sempre gostou de experimentar.
OLADOP