Priscila

Anjelica Huston é nada menos do que a terceira geração de uma família de vencedores do Oscar. Cinema está nas veias desta atriz, conhecida por seu potencial dramático e sua escolha de papéis um tanto sombrios – uma espécie de Meryl Streep do lado negro da Força. Filha do diretor John Huston (de clássicos incontestáveis como ''Relíquia Macabra'' e ''O Tesouro de Sierra Madre''), por incrível que pareça, ela demorou para aparecer nas telonas. Não queria entregar-se à carreira que consumiu seu pai.Sua mãe era uma bailarina russa chamada Ricki Somma, de quem herdou os traços exóticos, o corpo esguio e a paixão pela dança. Anjelica (ou ''Angel'', como prefere ser chamada) passou uma problemática infância na Irlanda. Seu pai sempre foi conhecido como temperamental e imprevisível. A maior prova é que, mesmo não querendo que a filha fosse atriz, foi o primeiro a lhe oferecer papéis.Huston precisou mostrar-se hábil (literalmente) para seu primeiro trabalho no cinema, ''Cassino Royale'', dirigido por seu pai. Anjelica servia como dublê de mãos durante uma breve cena. Ela sequer foi inclusa nos créditos finais – motivo que leva muita gente a acreditar que seu début ocorreu só dois anos depois, com dois filmes novamente dirigidos pelo pai: ''O Irresistível Bandoleiro'' e ''Caminhando com o Amor e a Morte''. No primeiro, seu personagem mal recebeu um nome. No segundo, porém, ela é protagonista – uma nobre que perde tudo na Guerra das Rosas e viaja pelo interior da França com um universitário parisiense.Ainda em 1969, Anjelica faria Huston, também sem chamar muita atenção. Notando que o cinema não era sua área, ela iniciou uma longa carreira como modelo, que a ocupou por toda a década de 1970. Nesses dez anos, fez apenas dois filmes: ''Swashbuckler'' e ''The Last Tycoon'', ambos de pouca repercussão.Nesta década, seu marco histórico mais importante foi o início, em 1973, de um longo que conturbado relacionamento com Jack Nicholson (de ''Melhor é Impossível'' e ''Batman''), que durou 26 anos. Anjelica compara o pai e o amante: “Houve muitas vezes em que eu e meu pai não concordávamos, mas nós sempre nos reaproximávamos um do outro porque eu costumo não enfrentá-lo por muito tempo. Acho que eu me sinto atraída por homens dominadores, como meu pai e Jack Nicholson”.A atriz só seria devidamente notada em seu retorno triunfal ao cinema, durante a década de 1980. Primeiramente, em 1981, Nicholson a carregou para uma versão de ''O Destino Bate à Sua Porta'', com Jessica Lange. Depois, ela fez duas pontas, na comédia ''This Is Spinal Tap'', de Rob Reiner, e na ficção científica trash ''Piratas das Galáxias''. Seu pai viria resgatá-la das produções medíocres com o grande filme de sua vida: ''A Honra do Poderoso Prizzi'', com quem ela volta a contracenar com Nicholson. No papel de sua ex-mulher, amargurada e de língua afiada, ela levou para casa um Oscar de Atriz Coadjuvante.A partir daí, foi imensamente requisitada pela indústria cinematográfica. Fez ''Jardins de Pedra'', de Francis Ford Coppola, e atuou no último filme do pai, ''The Dead'', ambos em 1987. Um ano depois, a pedido do irmão, Danny Huston, Anjelica atua em ''O Elétrico Mr. North'', misto de comédia e drama paranormal de pouca relevância. Em 1989 porém, teria a chance de trabalhar com um grande diretor novamente: Woody Allen lhe fez elogios rasgados por sua atuação em ''Crimes e Pecados'' como a amante da qual Martin Landau deseja se ver livre.Em 1989, Anjelica Huston sofre bastante. Primeiro, recusa o papel de Anne Wilkes, a fã fervorosa da o escritor vivido por James Caan em ''Louca Obsessão''. O papel foi para Kathy Bates e, para eterno arrependimento de Anjelica, Bates ganhou o Oscar com ele. Além disso, Anjelica precisa lidar com a difícil separação de Jack Nicholson. Os dois mantiveram a amizade de outrora, mas ela nunca negou o quanto se sentiu magoada. A dor só passaria em 1995, quando os dois voltam a trabalhar juntos em ''Acerto de Contas''. Estréia de Sean Penn na direção, este drama mostra o quanto a química de Nicholson e Anjelica é imbatível.Em 1990, Anjelica Huston daria a volta por cima e conseguiria outra indicação ao Oscar, desta vez como atriz principal, por ''Os Imorais'', de Stephen Frears. Ela, de fato, está soberba como a mãe vigarista do também trambiqueiro John Cusack. O filme narra como a difícil relação entre mãe e filho piora com a chegada de um terceiro mal elemento – Annette Bening (de ''Beleza Americana''), que também foi indicada ao Oscar por ''Os Imorais''.No ano seguinte, popularizou-se como a diabólica e passional Morticia Addams em ''A Família Addams'', provando que sabia também fazer comédia. Dois anos depois, repetiria o papel em ''A Família Addams 2''. Em 1992, atuaria sob a direção de Robert Altman no aclamado ''O Jogador'', e em 1993, Woody Allen voltaria a exigir sua presença no seu novo filme, o ótimo ''Misterioso Assassinato em Manhattan''.O final da década de 1990 mostraria-se levemente ingrato com a atriz, que fez ''Phoenix – A Última Cartada'', com Ray Liotta, e viveu a madrasta má de Drew Barrymore em ''Para Sempre Cinderella''. Honrando o legado paterno, dirige dois filmes: o drama ''Bastard Out of California'' e a cinebiografia ''Agnes Brown''.Já no novo milênio prova que mantém o pique e o supremo controle dramático com boas participações em ''Os Excêntricos Tenenbaums'', ao lado de gente como Gene Hackman, Gwyneth Paltrow e Ben Stiller; e em ''Dívida de Sangue'', no qual rouba as cenas de Clint Eastwood. Também achou um tempinho na agenda para popularizar-se ainda mais atuando na TV, na bem-sucedida adaptação do livro ''As Brumas de Avalon''. Ela fez a mítica Viviane.Seu próximos trabalhos incluem o ainda inédito ''The Man from Elysian Fields'' e ''Daddy Day Care'', previsto para 2003, no qual faz uma improvável parceria com Eddie Murphy.Anjelica Huston vive em Venice Beach, na Califórnia, com o marido, Robert Graham Jr, com quem se casou em 1992. Ela não tem filhos, mas para compensar cuida de 11 gatos. ''Houve uma época em que queria ter tido filhos, e não foi minha escolha não tê-los, mas não partiu meu coração o fato de não ser mãe'', revela, com sua habitual franqueza.