DANAIDE é resultado de um casamento poético, musical e pessoal do poeta, compositor e agitador cultural Makely Ka e da cantora e antropóloga MaÃsa Moura desde 2001. Em 2006 nasce o primeiro rebento dessa união - A DANAIDE, o disco - que começou a ganhar corpo ainda em 2002 com a mostra Reciclo Geral, idealizada e encabeçada por Makely, que reuniu e projetou toda uma geração de novos compositores e intérpretes na cena de Belo Horizonte.
O disco é um dos pouquÃssimos produtos fonográficos atuais que ainda podem ser considerados álbuns, no que se refere à amarração das canções, concepções de arranjos, detalhes de produção e ao conceito central que envolveu sua feitura. Um registro artesanal em digital do repertório que se solidificou e decantou ao longo desses anos ao lado de canções mais recentes que demonstram o frescor e a inventividade que a Danaide ainda conserva. Uma autoprodução sincera e primorosa capaz de adequar a essência musical e poética da dupla à s dificuldades de orçamento que se impõem a qualquer um que insista em não se curvar ao velho esquema das majors e aos novos (mas igualmente viciados) esquemas de financiamento das empresas via leis de incentivo (vide os créditos que indicam o apoio da Lei da Gravidade).
Os arranjos dispensam todo e qualquer elemento supérfluo e -enfeites musicais-. Apenas as cordas costuram os retalhos poético-musicais que se combinam construindo um mosaico de referências que apontam para várias e dialógicas direções. O universo modal está presente em Rodador (palÃndromo musical que abre e fecha o álbum) e nas canções mais melancólicas. As referências à chamada "linha evolutiva" da música brasileira (expressão que, por sinal, carece de nova discussão na atualidade) surgem (em Jacarta com a especialÃssima participação de Suzana Salles numa viagem à s primeiras décadas do século XX, no inÃcio da era fonográfica brasileira) de forma crÃtica e criteriosa, não apenas como as -homenagens- vazias que se tem escutado no chamado segmento MPB atual. Apesar de totalmente acústico, o disco não soa porém como o velho -banquinho e violão-. Pelo contrário, utiliza criativamente os recursos de pós-produção analógicos e digitais, sem pudor, a serviço das idéias (não apenas da formatação ao padrão sonoro dogmático que iguala as sonoridades das produções mais recentes no mercado fonográfico brasileiro e mundial).
A poesia de Makely é, sobretudo, música. Sua música, poesia (im)pura (como bem já se autodefiniu Caetano com as referências a João Cabral e João Donato). Ao mesmo tempo mÃtico e autobiográfico; cru e sofisticado; visceral e cerebral, Makely é a ponta de lança de toda uma geração que elegeu como prioridade fazer de sua carreira musical parte de sua obra, ou seja, de compor artisticamente sua trajetória no mercado: os chamados autoprodutores. As interpretações de MaÃsa realizam no estúdio as sutilezas que se consegue apenas na liberdade dos ensaios sem compromisso. Seu canto não é classificável: não segue a linha contida pós-Bossa Nova. Também não se aproxima de Elis e dos clichês que se construiu sobre seus excessos. É um canto fluido, dotado de uma textura tão áspera quanto leve; tão forte quanto delicada. Uma voz que se sente com o tato; encarnada; viva; com sangue correndo nas veias. MaÃsa é, sem dúvida, a mais criteriosa cantora da mais recente geração de intérpretes mineiras. Não é apenas a voz das canções de Makely. É também sua musa (em Moira e tantas outras) e mais rigorosa crÃtica.
Enfim, a chegada do álbum A DANAIDE é, sem sombra de dúvida, uma dessas gratas improbabilidades que de tempos em tempos vêm provar que ainda há ânimo, inteligência e inventividade nos subsolos da música popular brasileira. Pode ser tranquilamente colocado na estante dos - clássicos - já no dia em que for lançamento.
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