BOCA(S) LIVRE(S) DE FATO
O Boca Livre é, antes de tudo, um fato.
O sonoro nome que batiza um dos mais perenes e queridos dos nossos grupos vocais não é apenas um “bom nomeâ€. Não é apenas um engenhoso duplo sentido _ o da liberdade abstrata de quem canta com o do banquete musical farto e gratuito de quem ouve. Nem somente um eficaz tÃtulo para um grupo vocal (a metonÃmica “Bocaâ€) que propõe uma liberdade estética (o adjetivo “Livreâ€). Na verdade, o Boca é de fato Livre. Senão vejamos.
A liberdade das vozes é a sua marca musical.
_ Acho que a nossa principal caracterÃstica musical é que, nos arranjos, todas as vozes são principais. Se você ouvir em separado cada uma das quatro vozes, cada uma delas tem uma melodia, é “cantávelâ€, e não apenas um efeito vocal _ define com clareza Mauricio Maestro, a quarta voz (a mais grave) e o principal arranjador do grupo desde que ele foi fundado, em 1978.
A liberdade de ir e vir, de estar no grupo quando se deseja unir vozes ou de abandoná-lo por momentos se o desejo de liberdade individual (carreira solo e projetos individuais) predominar, é outra marca do Boca Livre desde o seu inÃcio.
Um bom exemplo está logo no primeiro ano de existência do grupo: o primeiro LP independente estourado, sucesso nacional, e Cláudio Nucci (a segunda voz da primeira formação) decide trabalhar sua carreira de cantor e compositor solo (e, suprema das liberdades, isso nunca impediria que Nucci voltasse ao grupo anos depois e permanecesse para sempre identificado com o “espÃrito Boca Livreâ€).
É a liberdade de ir e vir que permite que seus integrantes possam ir constantemente ao mundo lá fora enriquecer sua própria música e, por conseqüência, a do grupo: que Zé Renato viva sua bem sucedida carreira solo de cantor e compositor; que Lourenço Baeta componha para outros e faça seus discos solo; que David Tygel seja um dos mais prolÃficos autores de trilhas sonoras de cinema do paÃs e professor dessa atividade; e que Mauricio Maestro escreva arranjos por aÃ.
Não é uma VOLTA do Boca Livre, já que o grupo jamais deixou de gravar e de se apresentar. Mas é uma volta à formação clássica: livres para voltar a cantar juntos e desejosos de retomar o projeto Boca Livre, Zé Renato (primeira voz e violão), Lourenço Baeta (segunda voz, flauta e percussão), David Tygel (terceira voz e viola) e MaurÃcio Maestro (quarta voz, contrabaixo e maior parte dos arranjos) são de novo o Boca Livre.
_ O que nos moveu para esse retorno foi simplesmente a vontade de cantar junto de novo. Ou melhor, encontrar os amigos, a turma _ diz David Tygel, visivelmente empolgado depois de anos de solitário trabalho de compositor de trilhas, durante os quais foi substituÃdo com brilhantismo pelo cantor e instrumentista Fernando Gama, em meio ao quarteto durante um ensaio tarde adentro no apartamento de Zé Renato, no Rio.
Mas por que tal formação é a clássica?
Porque a chamada formação original tinha Cláudio Nucci, que participou das primeiras gravações em 1978 (o acompanhamento vocal do disco “Camaleãoâ€, de Edu Lobo, e de “Pastores da noiteâ€, de Vital Lima) e da gravação do primeiro LP, “Boca Livreâ€, que consagrou o grupo. Mas logo Nucci saiu e já nos primeiros shows, em 1980, Lourenço Baeta assumiu a segunda voz. Lourenço, aliás, já estava tão próximo do grupo que uma canção sua, “Feito mistério†(em parceria com o poeta Cacaso), fazia parte do repertório do disco e estava destinada a ser um dos inúmeros clássicos criados pelo Boca Livre. A partir daÃ, e pelos cinco anos seguintes, o Boca Livre se consagraria com a formação clássica que agora é retomada.
O novo show, ou melhor, a nova fase do Boca Livre será marcada tanto por vislumbrar o futuro do grupo como por um olhar sobre o seu passado. Não por acaso, começa com uma música nova, “Eu no futuroâ€, do pernambucano Lula Queiroga. E prossegue com uma das primeiras músicas que o Boca Livre gravou na vida, “Trenzinho do caipiraâ€, a música de Villa-Lobos letrada por Ferreira Gullar e adaptada em forma de canção por Edu Lobo, que em 1978 chamou o quarteto para apoiá-lo nos vocais.
O repertório, forjado em reuniões vespertinas na casa de Zé Renato, o tempo todo faz esse movimento entre o passado e o futuro, ideal para um grupo que tem longa trajetória ao mesmo tempo que uma vida pela frente. Assim, o quarteto investe em canções de autores contemporâneos como o uruguaio Jorge Drexler (“Al otro lado del rioâ€, tema ganhador do Oscar) ou o gaúcho Victor Ramil (a linda “Não é céuâ€). Faz arranjos novos para velhos clássicos brasileiros (como “Valsa de uma cidadeâ€, a homenagem ao Rio de Janeiro de Ismael Netto e Antonio Maria que ganha ares curiosamente mineiros pelo Boca Livre, e “Caravanaâ€, Geraldo Azevedo) e lança inéditas de autores consagrados como Carlos Lyra (a modinha “Quando ela falaâ€, feita sobre poema de Machado de Assis).
Para os fãs, e como não poderia deixar de ser, há canções de todas as fases. Do primeiro disco, “Boca Livreâ€, vem as classiquÃssimas “Toadaâ€, “Quem tem a violaâ€, “Dianaâ€, “Ponta de areiaâ€, “Feito mistérioâ€, “Mistériosâ€. Do segundo, o ágil tema vocal que deu tÃtulo ao LP, “Bicicletaâ€, além de “Correntezaâ€, de Luiz Bonfá e Tom Jobim, que teve arranjo do próprio Tom na época.
Há no repertório canções de todas as fases do grupo, de compositores brasileiros como Milton Nascimento (“Caxangáâ€), Nelson Ângelo (“Fazendaâ€) e Dori Caymmi (“Desenredoâ€). A autores estrangeiros que foram se incorporando ao universo estético do Boca Livre, como o viajante Pat Metheny (“First circleâ€) e George Harrisson (“I need youâ€).
Livre nos arranjos, livre no direito de ir e vir, livre para viver um presente entre passado e futuro, livre nas escolhas do repertório, o Boca permanece na ponta da música brasileira.
por Hugo Sukman
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ABOUT BOCA LIVRE
The Boca Livre Group is, first of all, a fact.
The beautiful name, that baptizes one of the most popular of Brazilian
vocal quartets is not only a “good nameâ€.
And it’s not only an ingenious double sense name (Free Mouth), that of
the abstract liberty of who’s singing along
with the free food feast (which is one of the meanings of the
expression in the Portuguese language) for those who listen.
Not even an effective name for a vocal quartet (for the word Boca -
mouth) that proposes an aesthetic liberty (the word Livre - free).
Truly, Boca is in fact, Livre.
The liberty of the voices is his musical brand.
We think that the most important thing in our arrangements is that all
of the voices are like if they were the lead voices and if you listen
to each voice separately you’ll discover that each one has it’s own
melody and significance, it’s not merely a vocal effect -
says Mauricio Maestro, the group’s vocal arranger.
Another important liberty for the group is the individual willing of
each participant of joining the group for some periods and
sometimes have his own individual career or projects.
A good example of this is that when the group has released
(independently) his first album, which was a huge success,
Claudio Nucci (second voice) decided to work on his solo career,
releasing his individual album, and, most of all liberties,
this was not a problem for him to rejoin the group many years later.
This fact helped him to forever remain identified with the “Boca Livre
spiritâ€.
This freedom is the responsible for each participant to go out in the
world outside the group and have his own experiences
enriching his music as occur with José Renato with his solo career,
David Tygel’s composing soundtracks career and
Mauricio Maestro’s arrangements for other musical formations.
This last album and DVD signifies a return to one of it’s most
expressive formations: free
to sing together and willing to restart the Boca Livre Project, Zé
Renato (first voice and acoustic guitar),
Lourenço Baeta (second voice, flute and percussion), David Tygel
(third voice and ten strings guitar) and
Mauricio Maestro (forth voice, electric bass and most of the vocal
arragements) are together once again.
What made myself take this road back to the group was the willing of
singing along with my comrades, my friends -
says David, very enthusiastic after years of a solitary work as a
composer of musical soundtracks, when
he was brilliantly substituted by the guitarist and vocalist Fernando
Gama.
This new phase of the group is going to contemplate not only the
future, with new arrangements but also with a look to it’s roots,
the classical songs of it’s long thirty years career. It starts with
the song “Eu No Futuro†- “Me In The Futureâ€, by Lula Quiroga and
proceeds with “Trenzinho do Caipira†- “Little Caipira Trainâ€, by
Heitor Villa-Lobos and Ferreira Gullar, adapted by Edu Lobo,
one of the most important Brazilian composers of all times.
The repertoire is constructed in a future-past basis, which is ideal
for a group that has a long trajectory as well as a long future in
front.
Boca Livre invests in contemporary authors like the uruguayan Jorge
Drexler’s “Al Otro Lado del Rioâ€, and revisit Geraldo Azevedo’s and
Alceu Valença’s “Caravana†along with the first recording of an
exquisite partnership of Carlos Lyra and Machado de Assis in “Quando
Ela Falaâ€.
But also you will find the good old classics like “Quem Tem a Violaâ€,
“Toadaâ€, “Diana†and some of the most important arrangements of the
group
like Pat Metheny’s “The First Circleâ€, Nelson Angelo’s “Fazendaâ€,
Jobim’s “Correntezaâ€, Milton Nascimento’s “Caxangáâ€, “Desenredoâ€
by Dori Caymmi and Paulo Cesar Pinheiro, and “Mistériosâ€, by
Mauricio Maestro and Joyce.
Free to compose, arrange and sing, free to come and go, free to live
between present, past and future and free to choose
it’s own repertoire, Boca Livre Group remains as one of the most
important groups of the contemporary Brazilian music.
By Hugo Sukman
Contacts:
Memeca Moschkovich
+ 55(21) 2179-6948
+ 55(21) 8289-5370
[email protected]