Amilcar Cabral nasceu em 12 de Setembro de 1924, na Guiné então Portuguesa, filho de Juvenal Cabral ( ex-seminarista e professor primário ) e Iva Pinhel Évora (doméstica ), ambos naturais de Cabo Verde.
Amilcar Cabral, recebeu o nome em homenagem a Amilcar Barca, general cartaginês que combateu os romanos, mas foi derrotado na I Guerra Púnica ( 264-241 a.c. ) .
Foi na zona em que murou, Bafatá, à margem do rio Geba, que Juvenal Cabral via nascer aquele que na história privada da famÃlia inaugurou a segunda geração. Na altura em que Juvenal Cabral conheceu Iva Pinhel Évora, era já pai de treze filhos.
A mãe de Amilcar Cabral , Iva Évora, nasceu em 1897, na ilha da Boavista, no seio de uma famÃlia com poucas posses e escassa instrução. Vivia com Juvenal, desde pouco antes de Amilcar nascer.
Apesar da indiscutÃvel influência que Juvenal teve sobre o filho, foi Iva Évora quem desempenhou o papel primordial nos aspectos práticos e financeiros assumindo, na maior do tempo, a totalidade dos custos para a sua educação.
Amilcar Cabral, começou os seus estudos primários, só aos 12 anos na Escola da Praia, Rua Serpa Pinto. Em apenas um ano lectivo, cumpriu a escolaridade obrigatória. A inteligência e capacidade de assimilação do filho obrigaram Iva a um esforço a fim de poder, todos os perÃodos, comprar livros novos para o filho.
Em 1937, sob os cuidados da mãe, Amilcar Cabral entra para o Liceu D. Henrique na ilha de São Vicente, que mais tarde se chamaria Liceu Nacional de Cabo Verde e mais tarde ainda Liceu Gil Eanes.
Durante os anos do Gil Eanes, Amilcar Cabral foi sempre o melhor aluno, e nunca deixou de participar em vários movimentos estudantis e cÃvicos, nomeadamente na Academia Cultivar.
Durante o tempo que vivera em São Vicente, Amilcar Cabral terá passado fome, com as grandes crises alimentares que assolaram o arquipélago em 1940 ( que provocou vinte mil mortos numa população total de 120 mil habitantes ) e, entre 1942 e 1948 ( outros surtos de fome que ceifaram a vida de mais de trinta mil pessoas ).
Mas nesse perÃodo que passou em S.Vicente, Amilcar Cabral costumava voltar à cidade da Praia onde passava perÃodos de férias, numa bela moradia construÃda numa das melhores terras de Santa Catarina, com um alpendre à volta, como as casas da Guiné.
Quando Amilcar Cabral concluÃu o quinto ano, escolheu a área de ciências, a conselho do pai que o incentivava a seguir a agronomia. Em 1944 , Amilcar Cabral termina o liceu com nota de 17 valores, o que era uma pontuação excepcional na época.
Findos os estudos secundários de Amilcar Cabral, Iva e todos os filhos mudaram-se para novamente para a Praia, onde Amilcar conseguira um trabalho como ajudante tipógrafo . Durante um ano exerceu a função de aspirante nos serviços da Imprensa Nacional
Tempos da Universidade:
Em 1945, Amilcar é contemplado, por concurso, com uma bolsa de estudos para Portugal, atribuÃda pela Casa dos Estudantes do Império. E ainda no final deste ano parte para Lisboa, Portugal, onde passa a viver , tornando-se, em 1949, um dos dirigentes da CEI.
Sem tempo para se dedicar ao seu desporto preferido (futebol), segundo crónicas, tanto deu nas vistas na equipa de agronomia que caso tivesse querido poderia ter feito carreira, pois declinou um convite do Benfica para que ingressasse no clube.
Durante os anos de estudo um irresistÃvel apelo o toma : era necessário o regresso a Ãfrica. Não só pela famÃlia que ama mas porque : “milhões de indivÃduos têm necessidade da minha contribuição na luta difÃcil que travam contra a natureza e os próprios homens (...) Lá, em Ãfrica, apesar das cidades modernas e belas da costa, há ainda milhares de seres humanos que vivem nas profundas trevas.†Em 1949, escrevera : “ Vivo intensamente a vida e dela extraà experiências que me deram uma direcção, uma via que devo seguir, sejam quais forem as perdas pessoais que isso me ocasione. Eis a razão de ser da minha vidaâ€.
Entre os livros que lhe abrem os horizontes de compreensão do mundo do seu tempo, o mais determinante terá sido a : “Anthologie de la nouvelle poésie négre et malgacheâ€, organizada por Léopold Sédar Senghor.
A primeira mulher de Amilcar Cabral foi Maria Helena de Athayde Vilhena Rodrigues, sua colega no Instituto de Agronomia com quem viria a ter duas filhas, Iva e Ana LuÃsa.
No quinto ano do curso, volta ao arquipélago para passar as férias grandes. Pretendendo transmitir aos cabo-verdianos, os conhecimentos de que dispõe , especialidade técnica ( a erosão dos solos ) e a cultura geral, na Praia, pronuncia, através da Rádio Club de Cabo Verde, várias palestras sobre as caracterÃsticas do solo das ilhas. Por despertar a consciência dos cabo-verdianos quanto à importância da divulgação do conhecimento as autoridades portuguesas rapidamente lhe proÃbem o acesso à rádio assim como lhe proÃbem que ministre um curso nocturno na Escola Central da Praia.
Do PAIGC à Independência
Em 1952 Juvenal Cabral falece, ano em que Amilcar Cabral regressa a Ãfrica, a Bissau, contratado pelos Serviços AgrÃcolas e Florestais da Guiné Portuguesa. Aos 28 anos ao desembarcar na Guiné o Engenheiro agrónomo tem outros fins : consciencializar as massas populares guineenses. No posto agrÃcola de Pessubé, que dirige, contacta com os trabalhadores rurais entre os quais cabo-verdianos. Um ano depois, recém formado em Engenharia AgrÃcola, Amilcar Cabral inicia o recenseamento agrÃcola desse território. O trabalho polÃtico segue a par da actividade profissional .
Em 1955 Amilcar Cabral é transferido para a Angola, trabalha em Cassequel, como engenheiro e toma contacto com activo com os fundadores MPLA, ao qual se liga, desde inÃcio.
Numa das suas passagens por Bissau, a 19 de Setembro de 1956, Amilcar Cabral, Aristides Pereira, LuÃs Cabral, Júlio de Almeida, Fernando Fortes e Elisée Turpin, tem lugar uma reunião que passaria a ser considerada a data oficial da fundação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC, que é naturalmente um partido clandestino, até quatro anos depois .
Amilcar Cabral nesse perÃodo tem uma agenda carregada. Em Novembro de 1957 participa em Paris numa reunião para o desenvolvimento da luta contra o colonialismo português, mantém contactos com os anti-colonialistas em Lisboa, está em Accra num encontro pan-africano.
Em 1960, deixa Lisboa rumo a Paris, onde se encontra com Mário de Andrade e outros combatentes. Segue depois para Tunes, na TunÃsia, em Janeiro, onde participa na segunda conferência dos Povos Africanos e Maio está em Conacri. Ainda neste mês, em Londres, denuncia numa conferência internacional, pela primeira vez, o colonialismo português. Mas sempre sublinhou não estar contra o povo português, mas sim contra o sistema colonial. Neste mesmo ano, ainda, a 15 de Novembro, o PAIGC endereça ao governo português um memorandum propondo a auto-determinação para a Guiné e cabo Verde.
Entre 1960 e 1962, o PAIGC actua a partir da Républica da Guiné. Essa actuação desenvolve-se em três aspectos : formar militantes e quadros para a difusão do Partido no interior da Guiné , garantir o apoio dos paÃses limÃtrofes e, finalmente, a obtenção do apoio internacional.
A República da China foi o primeiro paÃs a apoiar o movimento de libertação nacional dirigido pelo PAIGC, ao receber, em 1960, Amilcar Cabral e alguns quadros que ali ficaram preparando a guerrilha e a formação ideológica. Em 1961, o Reino de Marrocos concede-lhe idêntico apoio.
Em 1963 o PAIGC inicia a luta armada na Guiné, com o ataque ao quartel de Tite. Foi nesse mesmo ano realizado em Dakar, a reunião de quadros do PAIGC, para discutir como lançar a luta em Cabo Verde, tendo ainda o Presidente Léopold Senghor , nesse ano, proposto a Portugal um plano de paz para a Guiné.
A luta armada, preconizada pelo PAIGC, prossegue sob comando e estratégia de Amilcar Cabral , e em Março de 1972 Amilcar Cabral comunica à direcção do PAIGC a existência de um complot contra si e contra o partido. A 12 Setembro de 1972 o PAIGC reivindica 2/3 do território da Guiné. Em Outubro deste mesmo ano Amilcar Cabral intervém, pela última vez, no comité de Descolonização da ONU e em Dezembro a Academia das Ciências da URSS confere a Amilcar Cabral o tÃtulo de doutor honoris causa. Em mensagem de Ano Novo aos militantes e simpatizantes do PAIGC, Amilcar Cabral anuncia que será proclamada, em 1973, a independência da Guiné – Bissau. É o seu discurso-testamento , pois que vem a morrer dias depois.
A 20 de Janeiro de 1973, Amilcar Cabral é assassinado, em Conacri. LuÃs Cabral é quem assume , na prática, o PAIGC, até que em Maio Aristides Pereira é eleito secretário-geral, no decorrer do II Congresso do PAIGC, em Madina Boé. Em 24 de Setembro o Comandante Nino Vieira proclama , em nome da Assembleia Nacional Popular e do PAIGC, a independência da Guiné Bissau e LuÃs Cabral é eleito presidente do Conselho de Estado.
A 12 de Novembro de 1974 em Lisboa, têm lugar as negociações entre Portugal e o PAIGC, com vista à independência de Cabo Verde. E a 5 de Julho AbÃlio Duarte, presidente da ANP, proclama a Independência de Cabo Verde.
Amilcar Cabral Hoje
Amilcar Cabral hoje, é reconhecido como um grande herói nacional, uma grande figura de Ãfrica e, uma referência para a humanidade, pessoa que para muitos é um predestinado.
Como marco da incontornável para a história de Cabo Verde, Amilcar Cabral, também deixou um contributo válido para a Ãfrica na vertente intelectual e da dignidade e emancipação do povo africano, sendo hoje objecto de estudo em muitas universidades, enquanto um dos maiores pensadores africanos e personagem que contribuiu pela liberdade do seu povo e pela independência do seu paÃs.
É assim que de 09 a 12 Setembro passados cerca de duas centenas de investigadores, professores, polÃticos e cidadãos oriundos de várias partes do mundo, juntaram-se num simpósio, em Cabo Verde, para, a partir do pensamento de Amilcar Cabral reflectir Ãfrica.
No processo de diagnóstico da Ãfrica de hoje, inundada de conflitos, confrontada com acentuado atraso económico e elevado défice de democracia e tolerância, os palestrantes mais do que isso ousaram apontar soluções partindo das ideias e da filosofia do pai da nacionalidade : “Pensar com as nossas próprias cabeças, a partir da nossa própria realidade, contando com as próprias forças .†E mais.. “é preciso reflectir para avançar. “
Honra à memória do Pai da Nacionalidade. AMÃLCAR CABRAL!