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“Ouvir o Silêncio†é o novo Ep dos Estado Sónico, colectivo oriundo da Marinha Grande, que regressa ao activo após uma longa hibernação de sete anos. Depois de se escutarem os seis temas de “Ouvir o Silêncioâ€, facilmente se conclui estarmos perante um grupo de músicos competentes e dotados de um apuro técnico que só um processo natural de maturação confere. Sente-se também a deliberada convicção da abordagem estético/musical que (aliás, desde sempre) abraçam: rock (por vezes duro) perfumado de pop (por vezes muito doce), debruado por tramas que as palavras em português (cirurgicamente escolhidas) sugerem. É pois num estado [Sónico] adulto que o colectivo se encontra. Fronteiras bem definidas e delimitadas, e uma sonoridade que o tempo se encarregou de tornar personalizada, conferem-nos a certeza de que, aqui, a única pretensão é a busca do bem-estar…
Não é por isso de estranhar que hoje, seja “apenas†o prazer de tocar e de compor que move os músicos que actualmente formam o grupo: José Polido, LuÃs Guerreiro, Nuno Lopes, Sérgio Alves e Donato Filipe.
Gravado no cada vez mais proeminente Marduc Studios, e produzido pelo competente norte-americano Marc Jung (que já assinou, com brilho, as produções de, entre outros, Born A Lion, Dapunksportif ou Worship Of The Senses), “Ouvir o Silêncio†mostra-nos seis temas: começa com o potencialmente radiofónico “A Janela do Mundo (cheia de tudo e nada)â€, acalma com o aveludado e trip-hopiano “Nas Tuas Mãos (o toque das sereias)â€, segue com o simultaneamente contemplativo e empolgante “Azul (o silêncio do fim)â€, avança com o hit em potencia de “Nunca é Tarde (ouvir o silêncio)â€, curva na quase balada bluesy em crescendo de “Pião (eco)†e termina na visceralidade de “Até ao Fim (a voz)â€, como se a banda de Frank Black, em vez de ter composto no castelhano de “Vamosâ€, se tivesse, antes, afoitado na lÃngua de Camões...
Uma vez findada a fase de composição e produção, os Estado Sónico estão, igualmente, prontos para voltar aos palcos, local onde, afinal, a banda sempre soube estar com elevação e uma energia muito particulares. Só pode ser, pois, com redobrado agrado, que assistimos ao regresso activo “a sério†de uma das bandas mais marcantes que a cidade industrial da Marinha Grande (a mesma do proletariado, a mesma do novo-riquismo, e a mesma das desigualdades sociais evidentes) viu nascer. Parafraseando a simplicidade dos próprios Estado Sónico: “Porque assim aconteceu e porque assim o vamos fazendo acontecer…â€.Texto por Carlos Matos