O nome é extremamente significativo. O Salto. Porque, para o vocalista Fabão, este CD marca um movimento interessante, de volta da batucada do Monobloco ao rock’n’roll – nos últimos tempos, o contrário tem sido mais comum. Porque, para os guitarristas Sérgio Ferreira e Sérgio Morel, o baixista VÃtor Queiróz e o baterista Bicudo, este CD marca um amadurecimento acelerado, do pop-rock do LS Jack ao rock’n’roll d’O Salto.
A bem da verdade, deve-se registrar que, no caso dos músicos, tal movimento já se anunciara em “Jardim de coresâ€, o quinto (e último) disco do LS Jack, de 2004. Embora lançado depois do acidente sofrido por Marcus Menna durante uma lipoaspiração, aquele CD ainda contava com sua voz, parte de gravações que iam bem adiantadas. Era um trabalho forte, no qual hoje se pode adivinhar O Salto. Menna prossegue sua recuperação.Os outros membros do LS Jack, no entanto, se viram no mesmo dilema que volta e meia assola os que perdem um companheiro por morte, doença ou desavença: parar ou prosseguir? A resposta está no nome de seu novo projeto. O Salto. Ao decidirem dá-lo, os quatro músicos voltaram-se para o vocalista Fábio Allman, o Fabão. Uma escolha natural, pela amizade e porque o LS Jack já havia gravado duas de suas composições, em “Olho por olho, gente por gente†(2003).
Fabão, os Sérgios, VÃtor e Bicudo estão ensaiando há um ano, três vezes por semana, já com uma bem-sucedida apresentação-teste no currÃculo, no Skol Beats de Salvador, em 2005. Mais que uma mera substituição no LS Jack, porém, era o inÃcio d’O Salto. Fabão traz para a banda a mesma pegada hard-roqueira – participação no cultuado Monobloco à parte – que impressionou a falecida Cássia Eller a ponto de dividir microfones com ele. O vocalista participou da gravação de sua música “Faça o que quiser fazer†no CD “Veneno vivo†(1998), e do show de Cássia no Rock in Rio 3, em 2001.
Seu cartão de visitas, como cantor e como compositor (em parceria com VÃtor Queiróz), é “Duas mãosâ€, primeira faixa do CD produzido pela própria banda. As guitarras entram rasgando, meio Legião Urbana, meio U2, abrindo espaço para Fabão quase evocar outro mito da Lapa roqueira carioca, Celso Blues Boy, no refrão “eu ando na multidão/ Com medo dos carros e vidros quebrados no chão/ Eu sigo na escuridão/ E acendo a vela da prece que faço a duas mãosâ€.
A segunda faixa d’O Salto, “A noite é dos que não dormemâ€, tem letra do poeta Bernardo Vilhena, velho parceiro de Lobão, e foi escolhida para ser a primeira música de trabalho do álbum. O pique roqueiro se mantém acelerado, com os músicos exibindo sua proficiência, enquanto Fabão (co-autor da música com Sérgio Ferreira e Bicudo) canta “ninguém nasce sabendo/ Todos têm que correr atrás/ Então por que ficar com medo/ De saber um pouco mais?/ Do enredo dessa vida/ Dos direitos que são seus/ O que é verdade, o que é mentira/ Quais são os segredos de Deusâ€.
Sejam quem forem os autores, contudo, quase todas as letras do disco falam de alguma espécie de superação, o que remete à própria barra que os membros da banda tiveram de segurar diante do abalo na saúde de Menna. Escute-se, por exemplo, “Posso resolver sozinho (O dom da vida)â€, de Fabão, Pontual e Velloz: “Passei um tempo meio enrolado/ Coisas do passado/ Com um pouco mais de sacrifÃcio/ Posso resolver sozinhoâ€. Ou “Todas as cartasâ€, de Queiróz, Bicudo e Daniel Lopes: “Vou me colocar no mesmo ponto em que parti/ E então me oferecer pra outro laço que me envolver,/ Pra onde o vento me empurrar/ Por uma estrada que me faça andar por onde você não váâ€.
Nesta faixa, assim como em “Posso resolver sozinho (O dom da vida)†e em “Pura imaginaçãoâ€, O Salto ganha o reforço de Alex Veley nos teclados. Outro fera dá duas mãozinhas (e a massa cinzenta) à climática balada “Antes da chuvaâ€, o ex-tecladista do Barão Vermelho, MaurÃcio Barros, co-autor da faixa com MaurÃcio Negão: “O vento no seu rosto/ Antes da chuva/ O nosso tempo, os nossos planos/ Antes da chuvaâ€.
Nos créditos de composição, O Salto recebe ainda uma canja de Moska, um dos melhores autores cariocas da atualidade, no delicado blues “Nada vai mudar issoâ€: “Meu amor se expulsou de mim/ Se cansou dos meus vÃcios/ E mesmo que amanhã ele volte com outro feitiço/ Hoje meu amor partiu e nada vai mudar issoâ€. Superação, sempre. Aliás, embora a inclinação do disco seja para a necessidade da superação pessoal, os músicos, vivendo numa cidade tão partida, não poderiam deixar de clamar por uma superação coletiva. É o que fazem sobre o riff pesadão – digno do Rush do qual fazem covers num projeto paralelo – de “Morro e asfalto†(de Sérgio Ferreira, Fabão e Morel), que constata: “Separados pela diferença,/ Desespero e esperança/ Filhos do mesmo Deus/ Somos filhos do mesmo Deusâ€. Nesta, como nas outras 12 faixas do CD, O Salto mostra que, a despeito do renovado vigor do rock’n’roll, não perdeu o domÃnio da linguagem aderente do pop.
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