Eu achava que fumar cigarro, me esconder atrás piercings, tatuagens, visuais freaks, falar palavrões, gÃrias, utilizar um português deturpado, me submeter a todos estes clichês e perder completamente a razão, poderia me tornar uma pessoa diferente, interessante. Achava que o tipo de música que ouvia, todos esses modismos, todos esses estrangeirismos, poderiam moldar a minha personalidade. Mas estas não passam caracterÃsticas superficiais e vagas, e quando eu buscava pela verdadeira essência do meu ser, descobria, então, uma garota completamente vazia.
Perco-me em mim mesma, como se perde uma borboleta na expessa neblina de um grande nevoeiro, sem saber onde deve ir, nem onde quer ir. Assim estou eu, perdida no vácuo da minha alma, onde há a total ausência de luz. Então me reivento. Posso ser a atriz, bailarina, música, pintora, estilista, decoradora, compositora, dramaturga, poetiza, romancista, cineasta, sonoplasta; sonhadora. Sou a artista de um mundo flutuante. Escondo-me sob várias máscaras, trajando os mais inusitados disfarces, reescrevo várias vezes a minha história, interpreto milhares de personagens. Crio várias personalidades e vivo através delas, e me perco nelas, como sempre estive perdida em mim mesma. Não passo de uma miragem que muda de figura a todo instante. E minha alma é tão seca e sem vida quanto as páginas amareladas dos livros que leio tão sofregamente.
