Éramos seis
Um grupo de amigos resolve se juntar para tocar. Alguém conhece um baterista, o colega de alguém é baixista, um chama o outro e quando menos se percebe uma banda está formada. Foi assim que a Velotroz surgiu, em janeiro de 2007, composta inicialmente por Giovani Cidreira, Tássio Carneiro, Danilo Anes, Jeferson Dantas, Caio Araújo e Eric Pretti. A banda começa a ensaiar com mais freqüência, depois a se apresentar por Salvador e o que era apenas uma diversão despretensiosa de um grupo de amigos passa a ser um projeto consistente. Com influência de diversos ritmos, às vezes até de ritmos inusitados, como o axé.
No final de 2007 a Velotroz grava sua primeira demo, Duas e Meia. Neste mesmo perÃodo, começa a chamar atenção do público soteropolitano, seja pela performance explosiva do vocalista Giovani Cidreira, seja pelo clima alegre das músicas. As apresentações da Velotroz viram sinônimo de diversão e a boa aceitação da banda só incentivava seus componentes a serem ainda mais criativos nos arranjos e composições.
Tudo ia muito bem quando, em abril de 2008, Eric Pretti (tecladista) resolve sair da banda por motivos pessoais. Mas o que deveria abalar o grupo serviu apenas para tornar mais consistente tudo que a banda já havia construÃdo até então. A Velotroz passa por um perÃodo introspectivo, revisa suas composições e reformula sua estrutura. Pouco tempo depois, volta a tocar sem nenhum componente novo.
Nada novo, tudo novo
Após a saÃda de Eric Pretti, a Velotroz assumiu sua formação atual: Giovani Cidreira no vocal e violão, Tássio Carneiro na guitarra e teclados, Danilo Anes na guitarra, Caio Araújo no baixo e Jeferson Dantas na bateria. O som da banda também foi reformulado. As guitarras assumiram um papel mais relevante e, conseqüentemente, a Velotroz ganhou mais peso nas suas composições. O violão passou a ser usado, o que ajuda a construir um clima mais melódico e intimista. Além disso, a banda passou a contar também com a participação especial do percussionista Filipe Cerqueira, acrescentando mais ritmo e dinâmica para algumas músicas.
Novas composições e a redefinição musical levaram o grupo para o estúdio novamente, dessa vez para gravação de um EP batizado de Parque da Cidade, que registra um momento mais seguro da banda. Velotroz amadureceu - não apenas musicalmente. O EP é a sÃntese desse processo. São oito composições próprias que tem como plano de fundo um cenário urbano, de cores apagadas e imagens distorcidas pela velocidade do cotidiano. Tudo abordado de maneira explosiva, nervosa e urgente, como são os dias atuais.
Velotroz por Saulo Dourado
É como um desenho infantil. Vem logo a imagem do vocalista contornado em giz de cera, com um microfone do seu tamanho, soltando riscos vermelhos que vão para todos os lados do papel. A bateria aparecendo duas vezes, porque não há quem não diga que ela não seja duas, as cordas do baixo em toda a moldura e as guitarras em rabiscos fortes, de uma criança que queria sentir também enquanto riscava. E mais quatro caras sorrindo, com os braços levantados, as pernas de palito flutuando, em cima de uma única linha. Ao redor, como só é possÃvel num desenho, vários objetos, dos mais próximos de nosso tato, daqueles que vemos todos os dias e nunca pensamos em representar, aos mais difÃceis de se pôr em uma forma. Não há nenhuma ordem que não pertença à livre-vontade de conduzir os traços como der. E a impressão que segue ao olhar tudo isso é uma atmosfera forte, em que coisas que não deveriam estar juntas finalmente estão, atiçando a vontade de perguntar por que é que nunca estiveram. Ao mesmo tempo não confunde, não desampara. O desenho de uma criança, mesmo que à s vezes fale de coisas talvez tristes, conduz sempre a um sentimento de proximidade com o que há de bom em estar aqui.
2
Temos aà um cantor de verdade. Temos aà gente
sem medo de dizer palavras que eram proibidas
numa melodia. Temos aà instrumentos se cruzando
de um modo estranhamento bom. Temos aà batidas e harmonias
que se misturam. Temos aà um clima que participa do que é a nossa década no rock, mas sabe não imitá-la. Temos aà qualquer coisa entre festa em sala apinhada e passo apressado em avenidas. Só não temos aqui alguém que possa
acrescentar algo mais útil do que um simples - "deixe-se por eles".
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