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A primeira vez que vi Vanessa Bumagny, integrava o elenco de “De Profundis”, de Ivam Cabral, lá nos Satyros, em 2001 ou 2002. Não esqueci aquela figura esguia, que fazia uma participação marcante no drama dirigido por Rodolfo García Vázquez. Mas não conhecia a artista que habitava aquela figura de olhos ardentes. Alguns anos mais tarde, voltando ao palco, passei a integrar justamente o elenco dos Satyros, e então tive a chance de me aproximar de Vanessa, amiga de Ivam e Rodolfo e espectadora fiel de tudo que se faz na Praça Roosevelt.
Conheci uma mulher bela e curiosa e talentosa e exigente. Lança agora seu segundo álbum, “Pétala por Pétala”, depois do elegante e intenso trabalho de estréia, “De Papel”, em 2003. O segundo em seis anos. Pouco? Pode ser. Para qualquer um. Não para uma artista refinada, perfeccionista, rigorosa. Vanessa canta a perplexidade, o desentendimento, a sensualidade, o prazer, em resumo, o estar no mundo hoje. E dentro desse território, uma das facetas que melhor disseca é o amor. Mas não qualquer amor. Para ela, o amor é um modo real de experimentar a condição humana, uma forma, A forma de estar no mundo. Em busca desse norte (não do amor apenas, mas de sua expressão) é que ela se pauta. E sai à procura dos acordes e das palavras perfeitas para traduzir o que sente.
Um sabor tremendamente atual perpassa tudo que VB faz. Parte das bases. Tem bossa nova em seu álbum, assim como tem rumba, tango, samba, forró, música brasileira de raiz, valsa e muito mais. Tem flashes de tarde de domingo em bairro residencial tranquilo. E climas de alta madrugada devassa de promessas sussurradas. E essa riqueza toda surge temperada com o toque contemporâneo de acompanhamentos inesperados, de sincronias quebradas e refeitas. Não por acaso ela entregou a produção de seu álbum a um dos músicos brasileiros mais antenados com a modernidade da canção: Zeca Baleiro. Que fez em “Pétala por Pétala”, como faz sempre, um trabalho de jovem mestre.
VB se vale de suas próprias palavras, e também coloca em música as palavras de poetas do porte da galega Rosalia de Castro e do português Sidónio Muralha. As imagens que cria em suas letras são melodia pura. Algumas são solares: “Não sei se foi Deus quem quis / se foi destino ou acaso / o fato é eu aquele triz / ou um minuto de atraso / que fez de você meu par / foi a coisa mais feliz”. Outras, parecem noite fechada sem alvorecer: “Pelo que eu não conheço / quero o nome e o endereço da dor que vai morar comigo”. Ela dá a umas e outras, ao desespero e à alegria, a interpretação exata. A voz de Vanessa Bumagny é macia, é suave. E enganadora. Pois esconde navalhas e agulhas, plangências e pungências que retalham amorosamente as emoções de quem a ouve. Sim, a voz de VB é delicada e afiada. E sua interpretação é calculada para nunca perder nem a irônica força nem a paixão que a move e impele e a transforma numa artista que, em nosso panorama, é única.
Alberto Guzik é ator, escritor crítico teatral, dramaturgo, professor...
Descendente de russos e portugueses, Vanessa Bumagny nasceu em São Paulo.
E, cantando Mozart em um coral, quando morava nos EUA, decidiu optar pela carreira musical.
Apesar do início erudito, Vanessa cresceu amando Luiz Gonzaga. “Foi dele o primeiro disco que ganhei do meu pai, que se surpreendeu um pouco com o pedido”.
Desta maneira, sua música traz um fortíssimo sotaque brasileiro, mas os Beatles e Prince estão entre suas preferências, fazendo com que também passeie, com muita naturalidade pelo Pop.
No início dos anos 90 estudou teatro e circo, mas novamente a música falou mais alto e em 1992 criou uma banda de forró, estilo que até então, era impensável fora das rodas nordestinas.”Não tínhamos onde tocar e as pessoas torciam o nariz para a simples menção da palavra forró”.
Nesta mesma época conhece Chico César, de quem vira backing vocal, e Zeca Baleiro que chegou a participar de um show da banda como convidado especial.
“Compor, neste momento, era perigoso estando tão próxima de dois grandes talentos; mesmo assim eu arriscava. Zeca musicou uma das minhas primeiras letras, a ainda inédita Purple”.
Um pouco mais tarde, a descoberta de Dalva de Oliveira, gera um show todo dedicado ao repertório da grande diva.
Em 1995, resolve viajar para a Espanha, aonde tem uma crise de identidade musical. “Precisava mostrar algo realmente meu”.
A experiência se revelou tão boa, que, recebeu o primeiro convite para fazer um cd, de um espanhol, pois Já compunha também nesse idioma, mas sempre teve vontade de fazer seu disco no Brasil.
“Esse primeiro disco conta toda a minha história, por isso chama De Papel que é o que quer dizer Bumagny em russo. Ele sou eu, folha em branco, pronta para criar, registrar, expressar e depois sair cantando...”.
Atualmente está lançando o segundo CD, produzido por Zeca Baleiro.