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POPologias
Do inÃcio da década de 80 tinha chegado a estes portos boa nova da definitiva afirmação de uma vida possÃvel para as manifestações pop/rock em solo português. Com o avançar do tempo, entre palcos como o do Rock Rendez Vous, casas atentas na noite de Lisboa, pontuais emissões de rádio e emergentes publicações e, last but not least, as demandas de novidade e velharia in na Feira da Ladra, uma nova cultura, alternativa, começava a ganhar corpo e forma. E nos Pop Dell' Arte encontrou não só determinantes protagonistas, mas também uma das mais marcantes bandas sonoras de afirmação de inquietude artÃstica, visão pop e invulgar capacidade em cruzar meios, linguagens e universos.
Não era invulgar, no Portugal pop de meados de 80, uma banda nascer para concorrer ao concurso de música moderna que todos os anos o Rock Rendez Vous organizava naquele espaço que fez história na Rua da Beneficência ao Rego. E os Pop Dell' Arte foram uma entre muitas histórias de natalidade com olhos postos no concurso. Nasceram em Campo de Ourique em 1985, e nesse mesmo ano assinaram a sua cédula com a inscrição no concurso que, apesar de vencido pelos THC, lhes deu o prémio mais falado nos meses que se seguiram: o de originalidade, sinal de autenticação de consequentes ousadias formais na música e primeiro reconhecimento do talento performativo de João Peste.
A Dansa do Som, pequena independente que então assinalava cada triunfo no concurso com a edição de um disco, mostrou-se interessada, mas de um desentendimento artÃstico nasceu uma necessidade em vingar por meios próprios. Sem intermediários. O incidente conduziu à formação da Ama Romanta, a primeira independente portuguesa gerida exclusivamente por músicos, e com mote ideológico encontrado numa esclarecedora entrevista de João Peste ao sociólogo Paquete de Oliveira (mais tarde incluÃda como faixa spoken word na compilação Divergências , o manifesto da editora). A Ama Romanta foi casa de nomes como os Croix Sainte ou Anamar e, claro, os Pop Dell'Arte que se estrearam em disco em 1986 com o máxi-single Querelle , peça fulcral na construção das fundações de uma identidade artÃstica feita de uma colecção de referências muito próprias, e que acabou por ser de importância maior na inscrição inevitável de um espaço musical alternativo no Portugal de então.
O grupo vincou as promessas de Querelle e registou a sua patente estética ao editar, em 1987, o single Sonhos Pop e o soberbo álbum Free Pop . Este último não só é tido como um dos mais importantes discos do Portugal musical de 80, como é palco de evidências de uma atitude artÃstica de abertura e assimilação de correntes captadas nas letras, nas artes visuais, da colagem à citação, e representou uma das primeiras experiências de construção de loops na música feita em Portugal. Pensado com mentalidade livre, daà o seu nome, construÃdo com aquele sentido de urgência que abraça os que não temem as ideias, é ainda hoje um registo de puro assombro pop.
Os Pop Dell'Arte interromperam a sua actividade por algum tempo depois da edição do máxi Illogik Plastik , em 1989, assumindo João Peste a aventura Axidoxi Bordel por algum tempo (gravando um EP). O regresso à actividade faz-se entre 1992 e 93 com uma etapa de nova curiosidade sobre os modelos da canção e sob evidente curiosidade em aplicar à pop o conceito de ready made (aà de resto nascendo o tÃtulo para o álbum editado em 93). Para surpresa de muitos, assinam pouco depois por uma multinacional, a então PolyGram, para quem gravam Sex Symbol, o mais versátil e completo dos seus álbuns, antecedido pelo single My Funny Ana Lana e do qual saiu uma das maiores pérolas da obra do grupo: Poppa Mundi .
Um vazio de silêncio instalou-se pouco depois. De formação frequentemente mutante (e pela qual passaram diversos músicos), os Pop Dell'Arte conheceram em finais de 90 a sua etapa mais difÃcil, ocasional boato aqui, projecto ou notÃcia ali. Até que em 2002 o EP So Goodnight (a que João Peste chamou, em entrevista ao DN, um EPÃ) mostrou evidentes sinais de vitalidade criativa num colectivo forçado a viver num panorama editorial pouco dado a ousadias. Canções como Mrs Tyler , So Goodnight ou a desmontagem de Little Drama Boy davam continuidade a um caminho já veterano, nunca repetido, longe de exausto.
Depois de um elogiadÃssimo concerto make it or break it em Lisboa em Julho de 2005, no qual emergiram pontuais sons novos, os Pop Dell'Arte regressaram a estúdio, e apresentam nesta antologia três inéditos, uma vez mais com sabor a novo, a olhar lançado para lá do momento. Sonhando pop. Sempre pop.
Nuno Galopim, Dezembro 2005
(booklet POPlastik 1985-2005)
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